quarta-feira, 31 de julho de 2013

Os doutores querem ganhar mais. Mas, ao que parece, o título que deveria dar-lhes vantagem, terminou por deixa-los desempregados.


Um amigo postou no Facebook a seguinte matéria:

http://www.posgraduando.com/blog/anhanguera-realiza-demissao-em-massa-de-professores-mestres-e-doutores

Comentei.

Penso o seguinte: uma empresa contrata quem quiser e demite quem quiser. E a clientela procura a faculdade que quiser. Não entendo coisas como esta que o autor coloca: "O que acontece quando educação vira mercadoria". O que é que eu não entendo aqui é o que logicamente devemos deduzir: "educação não é mercadoria, mas se eu for um mestre ou doutor eu quero ganhar mais dinheiro do que quem não o é". Ora, seguindo o raciocínio do autor (de aversão ao mercado), pensava que ele e outros pós-graduados não fossem tão apegados ao vil metal, e aceitassem trabalhar por salários menores ou, quem sabe, até de graça!

Um exemplo simples do que é que determina os salários:

Há nem tanto tempo assim, nessa nossa mesma galáxia, nesse nosso mesmo planeta, nesse nosso mesmo país, uns 80% daqueles formados em engenharia exerciam funções de taxista, bancário, burocrata (funcionário público), etc. Na década de 90, os engenheiros faziam de tudo, menos engenharia. O sujeito poderia ter o melhor currículo do universo, mas isso de nada adiantava. A realidade do país era: prezado engenheiro, arrume outra coisa para você fazer porque NÃO HÁ EMPREGO PARA SUA ESPECIALIDADE.

Comparemos isso com a realidade atual. Qualquer moleque recém-formado em engenharia, que sequer sabe diferenciar direito uma lajota de um tijolo, é disputado a tapa pelo mercado, e começa sua vida profissional onde queira e com o luxo de escolher, no mínimo, entre umas 3 ou 4 ofertas de trabalho. O salário inicial? Geralmente entre 6 a 8 mil reais.

Não se surpreenda se encontrar por aí muitos soldadores ou mestres-de-obras com salário maior do que a média dos professores-doutores, ainda mais quando nunca foi tão fácil tornar-se um professor-doutor e eles, comparado com o passado recente, abundam no mercado.

O serviço público pode determinar suas regras salariais e pagar, de forma indistinta, acréscimos salariais por titulação. Via de regra, o setor privado, ao que parece (não conheço essa realidade a fundo) também faz essa distinção salarial, sem que haja, no entanto, uma regra universal para a determinação do salário. E quando há essa regra (e agora vem a parte mais importante) ELA NA VERDADE PREJUDICA O "TRABALHADOR". Repare que temos cá um exemplo clássico onde a mania de criar regrinhas na determinação de salários findou por ACABAR COM O EMPREGO DAQUELES QUE SUPOSTAMENTE ERAM PROTEGIDOS POR ESSAS REGRAS, mesmo que tácitas ou semi-oficializadas, digamos assim.

Economistas liberais por vezes apontaram que tal coisa acontece até com a questão do salário-mínimo, mas de um modo um pouco diferente: trabalhadores pouco qualificados que poderiam ser contratados com salário menor são privados de emprego e sustento. Será que existe exclusão maior do que a falta de emprego ou salário zero?

Deixo cá um texto interessantíssimo sobre uma faculdade que fez o inverso do grupo Anhanguera, ou seja, demitiu os "apenas" graduados e contratou para o seu lugar um montão de "doutores-pesquisadores", como exigência do MEC para reabrir o curso que falhou nas avaliações do Ministério. O resultado? Vale a pena conferir no texto.

https://conteudoclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/4/29/o-muro-de-arrimo-do-doutorzeco

Depois de ler, deu vontade de parodiar Vinícius de Moraes, aquela musiquinha da casa nº zero na Rua dos Bobos:

"Era uma casa muito engraçada, para cair não faltava nada.

Quem foi que fez, quem foi que tentou?

Foi ele ali, o professor-doutor

Advogado que não advogava. Era médico, mas não operava

Era 'dotô', mas nada curava. Agricultor, que nada plantava.

Mas gozava de muito prestígio, no Ministério do dr. Aloizio

Mas gozava de muto prestígio, no Ministério do dr. Aloizio"

(Antes que me interpretem errado: Há lugar para todos nas faculdades: para o pesquisador e para o professor que está no mercado, atuando. Ninguém vai ao dentista atrás de um projeto de pesquisa ou de um artigo científico. A maioria imensa dos engenheiros não é contratada para fazer pesquisa sobre a qualidade do concreto brasileiro. Para as profissões técnicas, é imprescindível a presença de professores com experiência profissional e atuantes no mercado).

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