sexta-feira, 29 de março de 2013

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=bfO0m5PbxRQ


http://www.youtube.com/watch?v=xM1SZf5WX9Y

http://www.youtube.com/watch?v=6RDB5HvAfhg

Grécia, Euro e "austeridade para quê, né?"

A  tragédia do euro e o caso da Grécia******


Os eventos fiscais na Grécia são exemplares da tragédia do euro e seus incentivos perversos. Quando a Grécia entrou na União Monetária Europeia, três fatores se combinaram para gerar déficits excessivos no orçamento do país. Primeiro, a Grécia foi admitida a uma taxa de câmbio muito alta. Com essa taxa e com os salários vigentes, muitos trabalhadores se tornaram pouco competitivos em relação aos trabalhadores dos países do norte, muito mais capitalizados. Para aliviar esse problema, as alternativas eram (1) reduzir os salários para aumentar a produtividade, (2) aumentar os gastos governamentais para subsidiar os desempregados (com seguro-desemprego ou esquemas de aposentadoria prematura), ou (3) empregar esses trabalhadores pouco competitivos diretamente no setor público.

Por causa dos poderosos sindicatos, a primeira alternativa foi deixada de lado. Os políticos optaram pela segunda e terceira alternativas, as quais geraram altos déficits orçamentários.

Segundo, por ter entrado na União Monetária Europeia, o governo grego podia agora contar com uma garantia implícita de socorro do Banco Central Europeu e dos outros países-membros da UME. As taxas de juros sobre os títulos da dívida do governo grego caíram para níveis próximos dos da Alemanha. Consequentemente, os custos marginais de se incorrer em déficits foram reduzidos para o governo grego. As taxas de juros estavam agora artificialmente baixas. A Grécia era um país que já tinha dado vários calotes ao longo do século XX e que estava acostumado a altas taxas de inflação e a altos déficits, bem como a um crônico déficit na balança comercial. Apesar disto tudo, o país passou a poder se endividar pagando praticamente as mesmas taxas de juros da Alemanha, um país com um histórico fiscal conservador e com um impressionante saldo na balança comercial.

Terceiro, a tragédia dos comuns entra em cena. Os efeitos deste temerário comportamento fiscal do governo grego podia ser parcialmente externalizado para os outros membros da UME, uma vez que o Banco Central Europeu passou a aceitar títulos da dívida do governo grego como colateral para suas operações junto ao sistema bancário. Os bancos europeus passaram a comprar títulos do governo grego (os quais pagavam um bônus em relação aos títulos do governo alemão) e a utilizar esses títulos para receber empréstimos do BCE a juros baixos (atualmente a juros de 1%, um negócio altamente lucrativo).

Os bancos compraram títulos gregos porque sabiam que o BCE iria aceitar esses títulos como colateral para conceder novos empréstimos. Havia demanda por esses títulos gregos porque os juros que os bancos pagavam para o BCE eram menores do que os juros que os bancos recebiam do governo grego. Caso o BCE não aceitasse os títulos gregos como colateral para seus empréstimos, a Grécia teria de pagar juros muito maiores sobre sua dívida. Com efeito, o governo grego tem sido de certa forma socorrido ou sustentado pelo resto da UME por um longo tempo, em um perfeito exemplo da tragédia dos comuns.

Os custos dos déficits gregos foram parcialmente jogados para outros países da UME. O BCE criou novos euros ao aceitar os títulos do governo grego como colateral. As dívidas gregas foram assim monetizadas. Com o dinheiro que recebeu com a venda de seus títulos, o governo grego elevou os gastos para ganhar apoio e popularidade junto à população grega. Quando os preços começaram a subir na Grécia, o dinheiro fluiu para os outros países, elevando os preços no resto da UME. Nos outros países-membros, as pessoas começaram a sentir os preços de suas compras subindo mais rapidamente do que suas rendas. Esse mecanismo significou uma redistribuição de renda a favor da Grécia. O governo grego estava sendo socorrido e auxiliado pelo resto da UME em uma constante transferência de poder de compra.


****Final do nono cápítulo do Livro linkado acima [ "A tragédia do EURO", de Bagus]

segunda-feira, 25 de março de 2013

Time After Time - The Same Crap Again

*Cesar Ailson Barros

Um texto foi indicado pelo nobre professor Adrualdo Catão , bastião liberal aqui nas Alagoas, e resolvi reproduzir algumas linhas aqui nesse espaço eminentemente libertário, bem como comentar alguns equívocos - será mesmo que não foi propositalmente, com a intenção de desinformar? [excertos em inglês]

From the floor of the U.S. Congress to the streets of Athens to the assembly lines of southern China, political and economic events are being shaped by escalating tensions between capital and labor to a degree unseen since the communist revolutions of the 20th century. How this struggle plays out will influence the direction of global economic policy, the future of the welfare state, political stability in China, and who governs from Washington to Rome. What would Marx say today? “Some variation of: ‘I told you so,’” says Richard Wolff, a Marxist economist at the New School in New York. “The income gap is producing a level of tension that I have not seen in my lifetime.
 
Tensions between economic classes in the U.S. are clearly on the rise. Society has been perceived as split between the “99%” (the regular folk, struggling to get by) and the “1%” (the connected and privileged superrich getting richer every day). In a Pew Research Center poll released last year, two-thirds of the respondents believed the U.S. suffered from “strong” or “very strong” conflict between rich and poor, a significant 19-percentage-point increase from 2009, ranking it as the No. 1 division in society.”





Além da parte em que há propaganda pura [nuncaanteznesteplaneta tivemos tantos pobres. Bem, é verdade, nunca antes tivemos qualquer tipo de gente, afinal, nunca fomos tantos bilhões antes. Queria-se o que? Um genocidiozinho para ~aliviar~ o Planeta de boa parte de sua carga? Além do mais... qual a idade desse mala? Não será que havia uma pobreza bem pior pelo Mundo antes? Que diria ele da época da Guerra Fria? Não havia tensão o suficiente àquela época? Tá de brincadeira...] é uma maneira de esconder um dos importantes lados dessa batalha: os governos e os respectivos políticos e aliados. Alguém acha que existem mais ricos do “lado certo”  independentemente de estarem nos 1% de lá ou dos 99% de cá ou mais POLÍTICOS do “lado do bem”? [acho eu que] Estes últimos estão em sua maioria do lado “errado” da tal guerra entre opressores e oprimidos, sendo claro que PARTE dos 1% têm sua ligação com o meio político e manda e desmanda, desvia etc., mas não estão entre esses 1% somente bandidos e larápios, que conversa é essa? Cuidado, essa conversa de ricos contra pobres é uma cortina de fumaça ideológica para esconder a verdadeira guerra entre os livremercadistas [que apoiam a liberdade individual não-agressiva [i.e. consensual] ACIMA do Estado que está lá somente para garantir que esses direitos sejam estendidos ao maior número possível] e os estatólatras que pretendem que essa ~individualização extrema~ [como extrema? Podemos ser MENOS indivíduos, então?] é um risco para a sociedade como um todo e que o poder do Estado é, pois, maior e mais importante socialmente do que meros indivíduos, ESTEJAM OU NÃO AGREDINDO OUTREM. E eis a pegadinha da coisa: um indivíduo pacífico é MENOR do que a sociedade, desde que arrume-se uma desculpa para legitimar a agressão contra aquele. E a culpa dos males do mundo é de quem se opuser ao esquema. No estilo “ame-o ou deixe-o” [nem todo lugar permite a saída, aliás, quanto mais radicalmente oposto às liberdades individuais e mais estatólatras, nem isso – vazar com mais de mil – é permitido.

Resentment is reaching a boiling point in China’s factory towns. “People from the outside see our lives as very bountiful, but the real life in the factory is very different,” says factory worker Peng Ming in the southern industrial enclave of Shenzhen. Facing long hours, rising costs, indifferent managers and often late pay, workers are beginningto sound like true proletariat”


Pinta-se uma figura que encaixa na bobageira marxista e se esquece do principal: quem manda realmente nas tais fábricas chinesas e quem permite – influencia, apóia, leva vantagem etc. – o Partido Comunista ChinÊs. Há um documentário [China triumph and turmoil], que tem três importantíssimas partes e foi produzido pelo Channel Four, em que é desvelada a realidade: quando um grande empresário chinês, ambientado na África [infelizmente esqueci o nome do país, mas assistam ao vídeo  e confiram. O que importa é que o chinÊs afirmou que ele e sua família estão ambientados ao ponto do repórter - Niall Ferguson - perguntar à filha do cara se ela se considera chinesa ou africana ao que a guria responde: “africana” – para a surpresa e felicidade do pai!], enfim, um figurão encarregado de uma mineradora, se ele era rico por possuir tamanho empreendimento ele responde: “quem dera fosse meu. É tudo ~da China~. Ou seja, esse tal Grande Salto talvez seja o salto de um gigante [é o salto de um gigante], mas um gigante burocrático, corrupto e cheio de tentáculos, dono de tudo o que se possa imaginar crescer de verdade [no mínimo sócio, mas tenho minhas dúvidas se há sequer essa tênue linha]

Outro exemplo, tirado do mesmo documentário, é o do visita do repórter a uma cidade pequena. Claro, lhe designam um ~guia~. Com esse guia ele anda pela cidadezinha e adentra numa barbearia e pergunta ao dono como são as coisas por lá. A resposta? “tá tudo muito bem, aqui na China é uma maravilha, nunca estivemos tão bem, aliás, não precisamos de nada.” Para a surpresa de Ferguson, o fato se repetiu em cada estabelecimento que ele encontrou por lá. Coincidentemente, havia sempre um ~guia~ por perto para ver se alguém iria se meter a besta e dizer que, sei lá, o Caminhão do Lixo não passou ontem. Impressionante.

A única tensão citada no documentário é o Dom Luan [ou Don Huan, não entendi direito a pronúncia. Aliás, gostaria de fazer –ou comprar- uma camiseta com esse ideograma qualquer dia. É o "turmoil" do título]¹, a grande revolta da massa oprimida por gente como esses milhares e milhares de funcionários públicos em cada esquina, bairro, central de apartamentos, fábricas etc., numa onipresença que consegue se tornar difusa, disfarçada, até mesmo para impor o medo – e que alimenta uma indústria da delação – todos “juntos” em uma máquina de mandar e desmandar, organizada em vários níveis até chegar aos grandes tubarões chineses. O medo que dá é a canalha resolver fazer guerra com algum inimigo externo para manobrar essa mesma massa para morrer pela Grande China ou o que seja. Mas a luta aqui não é contra o capital malvado: é contra a instituição estatal que em vez proteger as propriedades individuais e os contratos livremente acordados torna-se a máquina que explora uns em favor de outros. E o que certa mídia diz? Que a China é um exemplo de como o governo pode ~comandar~ uma economia para o ~bem geral~. Bem geral de uns à custa de outros fica um tanto contraditório, né? O bem geral seria melhor atingido se essa instituição procurasse defender e respeitar as escolhas individuais. É isso, e mais nada, que foi e tem sido chamado – preconceituosamente – de capitalismo.

“The way the rich get money is through exploiting the workers,” says Guan Guohau, another Shenzhen factory employee. “Communism is what we are looking forward to.” Unless the government takes greater action to improve their welfare, they say, the laborers will become more and more willing to take action themselves. “Workers will organize more,” Peng predicts. “All the workers should be united.”

That may already be happening. Tracking the level of labor unrest in China is difficult, but experts believe it has been on the rise. A new generation of factory workers — better informed than their parents, thanks to the Internet — has become more outspoken in its demands for better wages and working conditions. So far, the government’s response has been mixed. Policymakers have raised minimum wages to boost incomes, toughened up labor laws to give workers more protection, and in some cases, allowed them to strike. But the government still discourages independent worker activism, often with force. Such tactics have left China’s proletariat distrustful of their proletarian dictatorship. The government thinks more about the companies than us,” says Guan. If Xi doesn’t reform the economy so the ordinary Chinese benefit more from the nation’s growth, he runs the risk of fueling social unrest.


A que ponto chegou a coisa... Claramente a questão não é do capitalismo ser mal e querer o mal dos empregados, temo que isso seja um mal inerentemente humano, aliás, não é culpa de algum ~sistema~. A questão é que, justamente, não há liberdade para prosperar na China sem ser por meio da bênção governamental. Tenho minhas dúvidas a respeito dessa massa bem crescida cair nesse conto do vigário de que é preciso uma ditadura, sim , mas uma que seja REALMENTE do proletariado. Ora, ditadura alguma vai resolver coisa alguma a médio ou longo prazo. O máximo que uma ditadura consegue é pilhar mais e mais – uma hora não vai ter mais o que sugar e para onde crescer sem um inevitável colapso [assim espero e creio fervorosamente]. Mas o ponto é: a instituição governamental precisa garantir a segurança de seus cidadãos, e  primeiro e fundamental direito é de cada um ser dono de seu próprio corpo, ter suas opiniões, se engajar em quaisquer empreitada que deseje – desde que não fira o igual direito alheio. Um governo que quer te impedir de tomar posse de uma Terra “pública”, colher seus frutos dessa mesma terra e negociá-los como bem entender com qualquer outra pessoa está, na verdade, agindo contrariamente à natureza humana e, portanto, é ilegítimo e ditatorial. Dom Huan nele! Mas a luta correta não é por uma Ditadura Sindical ou ditadura alguma, por mais que seja importante as questões por melhores salários, é pelo direito de livre empreender – [para tentar] ser mais produtivo – a verdadeira causa a ser seguida.

Mas continuam as verdades invertidas – no texto e na cabeça de muitos ~cabeças~ por aí

“Marx would have predicted just such an outcome. As the proletariat woke to their common class interests, they’d overthrow the unjust capitalist system and replace it with a new, socialist wonderland. Communists “openly declare that their ends can be attained only by the forcible overthrow of all existing social conditions,” Marx wrote. “The proletarians have nothing to lose but their chains.” There are signs that the world’s laborers are increasingly impatient with their feeble prospects. Tens of thousands have taken to the streets of cities like Madrid and Athens, protesting stratospheric unemployment and the austerity measures that are making matters even worse.



Ou seja: para remediar o problema o que se quer é ir contra as medidas MENOS DANOSAS justamente dos filhos da puta dos políticos. Os Estados menos irresponsáveis e que mais se preocupam com [ou fingem se preocupar] com seus cidadãos – Alemanha, por exemplo – são considerados os vilões da crise gerada por estados mais corruptos e inescrupulosos como Grécia e Portugal. Culpa do capitalismo, mas nunca se lembram de somar dois mais dois e chegar à conclusão de que Capitalismo está do lado da AUSTERIDADE enquanto o comunismo é dispendioso e canalha. O problema é [cita-se outro Marxista] “Protesters, says Jacques Rancière, an expert in Marxism at the University of Paris, aren’t aiming to replace capitalism, as Marx had forecast, BUT MERELY TO REFORM IT. “We’re not seeing protesting classes call for an overthrow or DESTRUCTION OF SOCIOECONOMIC SYSTEMS IN PLACE,” he explains. “What class conflict is producing today are calls to fix systems so they become more viable and sustainable for the long run by redistributing the wealth created.”

No fim, um já usual argumento– não cai em desuso? – e  que pode ser desmascarado e resumido em “mimimi as esquerdas não são mais sanguinárias como outrora, que saudades de Stálin, agora a revolução permite que os financistas entrem na jogada – ou seja, “viraram capitalistas”. A canalha não cansa de, por um lado, sentir falta das ditaduras mais abertamente comunistas – como demonstram ao apoiar a Coréia do Norte, Cuba, Irã et caterva - e reclamarem que as esquerdas entraram ~demais~ no jogo do imperialismo. E, afinal, ao que parece, tudo que o GOVERNO dos EUA,  França, Itália, Portugal, Grécia – e em certa medida até a Alemanha [como BAgus também aponta como inflacionista em seu “A tragédia do Euro”. Só que inflacionista num nível suportável – até quando – para o povo alemão escaldado até uma horas] –  precisavam é que ruísse o famigerado modelo soviético para eles mesmos poderem intervir em suas economias a seu bel prazer e ajudar a grandes tubarões a prosperarem como sanguessugas da população e, no embalo, jogarem a culpa no Sistema capitalista e em verdadeiros empreendedores de largo sucesso. Inveja e infâmia, que duplinha, hein?

“There are few to stand in the way. The emergence of a global labor market has defanged unions throughout the developed world. The political left, dragged rightward since the free-market onslaught of Margaret Thatcher and Ronald Reagan, has not devised a credible alternative course. “Virtually all progressive or leftist parties contributed at some point to the rise and reach of financial markets, and rolling back of welfare systems in order to prove they were capable of reform,” Rancière notes. “I’d say the prospects of Labor or Socialists parties or governments anywhere significantly reconfiguring — much less turning over — current economic systems to be pretty faint”


¹混 乱 [hùnluàn] exemplo:  protesto na praça da paz celestial em 1989





sexta-feira, 22 de março de 2013

Imposturas Intelectuais


Rodrigo Constantino

“Any intelligent fool can make things bigger, more complex, and more violent. It takes a touch of a genius - and a lot of courage - to move in the opposite direction.” (Albert Einstein)

De acordo com os solipsistas, a falsificabilidade de Popper não faria sentido, posto que provas inexistem. Mas a epistemologia randiana, em contrapartida, objetiva aprioristicamente determinados fatos, independentes do princípio da incerteza de Heisenberg. A própria etimologia de “fato” corrobora tal assertiva. Dependendo da esfera cognitiva, entretanto, poderemos cair na famosa incomensurabilidade de paradigma, segundo Kuhn. Restaria uma explicação somente através da topologia psicanalítica de Lacan. E assim a questão poderia se dar por encerrada, com razoável grau de certeza. Ou não.

Caro leitor, muita calma nessa hora! Se você não entendeu nada do que eu quis dizer acima, é bom sinal. Afinal de contas, realmente não quis dizer absolutamente nada. Esse artigo pretende desmascarar determinado tipo de pseudo-intelectual, que apela com assustadora freqüência aos estratagemas conhecidos para impressionar leigos.

Não estou sendo sequer original aqui, pois Alan Sokal adotou exatamente essa estratégia para desmascarar vários intelectuais. Sokal mandou para uma famosa revista um artigo com título complexo, e trechos mais obscuros que os utilizados acima. Seu artigo não só foi aceito, como gerou bastante reação positiva. Qual não foi a surpresa geral quando o autor confessou tratar-se de um emaranhado de frases soltas e sem sentido? A revolta foi grande, e Sokal decidiu transformar seus argumentos em livro, com o mesmo título desse meu artigo, refutando intelectuais do peso de um Lacan, Kuhn ou Feyerabend.

Segundo o próprio autor, “a obra trata da mistificação, da linguagem deliberadamente obscura, dos pensamentos confusos e do emprego incorreto dos conceitos científicos”. São desmontadas táticas, como o uso de terminologia científica ou pseudocientífica sem dar a devida atenção ao seu real significado, ou ostentar uma erudição superficial, usando termos técnicos fora de contexto, para impressionar. Fora isso, frases são manipuladas constantemente. Sokal, com o auxílio de Jean Bricmont, mostra que o “rei está nu”, com casos manifestos de charlatanismo. A reputação que certos textos têm em virtude de suas idéias serem “profundas”, em muitos casos, são apenas reflexo de serem na verdade incompreensíveis, pois não querem dizer absolutamente nada.

Os leitores precisam entender que a prolixidade não significa bom conteúdo, ou que a complexidade não quer dizer lógica. Precisam saber ainda que a erudição e abuso de citações não garantem o embasamento do argumento, e que o apelo à autoridade costuma ser um desvio para quem não sabe refutar concretamente um determinado ponto. Um debate intelectualmente honesto precisa contar com razoável grau de objetividade. Caso contrário, muito provavelmente estaremos diante de um embusteiro.

Deixo a conclusão para Isaiah Berlin, que em seu livro A Força das Idéias, ataca basicamente o mesmo ponto exposto aqui: "Uma retórica pretensiosa, uma obscuridade ou imprecisão deliberada ou compulsiva, uma arenga metafísica recheada de alusões irrelevantes ou desorientadoras a teorias científicas ou filosóficas (na melhor das hipóteses) mal compreendidas ou a nomes famosos, é um expediente antigo, mas no presente particularmente predominante, para ocultar a pobreza de pensamento ou a confusão, e às vezes perigosamente próximo da vigarice."