sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O PRESIDENTE, O EXAME E A DESORDEM.

*Por Pedro Cabral

Vejam só, Amigos,
Nosso Presidente vem a público defender o EXO com unhas e dentes e para tanto invoca a velha falácia de que é esse exame que vai garantir a qualidade dos advogados no mercado...
Considero isso um acinte à inteligência das pessoas, um verdadeiro desrespeito à sociedade!
Primeiro, porque é mais do que sabido que, do ponto de vista pedagógico, provas e testes têm eficácia avaliativa extremamente limitada, além de, não raro, penalizarem quem está se submetendo a eles pelos erros e imperícias do próprio avaliador, que nem sempre é feliz na eleição do método ou dos critérios avaliativos.
Estou em sala de aula todos os dias, em contato direto com os jovens estudantes. Sua estrutura de raciocínio é outra, sua forma de pensar e encarar o mundo acompanha a mudança das relações sociais mediadas pela tecnologia e influenciada pelas hiperinformação.
Esses jovens, habilíssimos e totalmente adaptados ao novo ambiente global, estão sendo avaliados por pessoas que tiveram sua formação num tempo em que o máximo da tecnologia era a máquina de datilografia e a atualização didática era, na mais feliz das hipóteses, anual!
Esses jovens estão sendo avaliados por gente que mal sabe operar o próprio telefone celular!
E aí, quem é o incapaz?
Segundo, tal manifestação do Presidente é um desrespeito por querer fazer a sociedade crer que um exame, no começo da carreira, determinará a qualidade do advogado por toda a sua vida profissional, tal como se irradiasse seus efeitos (questionáveis) para o futuro de forma indeterminada.
A profissão de advogado, ele sabe bem, demanda habilidades e saberes para lá dos aferíveis em testes; demandam características pessoais e inteligência emocional que só o exercício da própria profissão é capaz de ensejar.
A pessoa não se transforma em advogado numa manhã de prova!
Terceiro, é acintosa a sua argumentação porque contraria o mínimo de bom senso, já que, segundo ele, o Presidente, a qualidade da advocacia seria atingida por meio da regulação do mercado educacional, da diminuição da concorrência entre as faculdades e da reserva de mercado da advocacia, o que é simplesmente absurdo!
Qualidade de serviço é uma categoria sob o domínio da economia, não está no campo de império das meras opiniões. Sei que ninguém tem obrigação de entender de economia, mas, se vai falar de algo sob o seu domínio, tem que ter a RESPONSABILIDADE MÍNIMA DE ESTUDAR SOBRE O ASSUNTO.
E não precisa ser experto na área para saber que o estímulo à qualidade e à inovação é tanto maior quanto maior for a concorrência e que políticas protecionistas acabam gerando distorções mercadológicas que desembocam na queda da qualidade de serviços e produtos (vide cases da indústria automobilística e da telefonia...).
Senhor Presidente,
Vamos parar de ignorar os verdadeiros fatores pertinentes à qualidade na advocacia.
Com a reserva de mercado imposta pelo aparato legal da OAB a qualidade sempre ficará em segundo plano e o mercado sempre será dominado pelos medalhões da política de classe.
A OAB parou na idade média, comporta-se como uma guilda monopolista e hermética que atende a interesses pessoais inconfessáveis.
Continuar dizendo que o exame de Ordem é instrumento da OAB no zelo da qualidade da advocacia a bem da sociedade; ou é cinismo de quem se aproveita da reserva de mercado; ou é arrogância daqueles que se julgam acima das outras pessoas pelo simples fato de possuir uma carteira da Ordem.
O EXO massacra nossos jovens e é instrumento do monopólio da profissão.
Ponhamos um fim nesta farsa que é o Exame de Ordem!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Acemoglu e Robinson não tão otimistas em relação ao futuro chinês ser necessariamente de inclusão política por causa da ascensão econômica


"THE IRRESISTIBLE CHARM OF AUTHORITARIAN GROWTH

Dai Guofang recognized the coming urban boom in China early on. New highways, business centers, residences, and skyscrapers were sprawling everywhere around China in the 1990s, and Dai thought this growth would only pick up speed in the next decade. He reasoned that his company, Jingsu Tieben Iron and Steel, could capture a large market as a low-cost producer, especially compared with the inefficient state-owned steel factories. Dai planned to build a true steel giant, and with support from the local party bosses in Changzhou, he started building in 2003. By March 2004, however, the project had been stopped by order of the Chinese Communist Party in Beijing, and Dai was arrested for reasons never clearly articulated. The authorities may have presumed that they would find some incriminating evidence in Dai’s accounts. In the event, he spent the next five years in jail and home detention, and was found guilty on a minor charge in 2009. His real crime was to start a large project that would compete with state sponsored companies and do so without the approval of the higher-ups in the Communist Party. This was certainly the lesson that others drew from the case.

The Communist Party’s reaction to entrepreneurs such as Dai should not be a surprise. Chen Yun, one of Deng Xiaoping’s closest associates and arguably the major architect behind the early market reforms, summarized the views of most party cadres with a “bird in a cage” analogy for the economy: China’s economy was the bird; the party’s control, the cage, had to be enlarged to make the bird healthier and more dynamic, but it could not be unlocked or removed, lest the bird fly away. Jiang Zemin, shortly after becoming general secretary of the Communist Party in 1989, the most powerful position in China, went even further and summarized the party’s suspicion of entrepreneurs by characterizing them as “self-employed traders and peddlers [who] cheat, embezzle, bribe and evade taxation.” Throughout the 1990s, even as foreign investment was pouring into China and state-owned enterprises were encouraged to expand, private entrepreneurship was greeted with suspicion, and many entrepreneurs were expropriated or even jailed. Jiang Zemin’s view of entrepreneurs, though in relative decline, is still widespread in China. In the words of a Chinese economist, “Big state companies can get involved in huge projects. But when private companies do so, especially in competition with the state, then trouble comes from every corners [sic].”

While scores of private companies are now profitably operating in China, many elements of the economy are still under the party’s command and protection. Journalist Richard McGregor reports that on the desk of the head of each of the biggest state companies in China stands a red phone. When it rings, it is the party calling with orders on what the company should do, where it should invest, and what its targets will be. These giant companies are still under the command of the party, a fact we are reminded of when the party decides to shuffle their chief executives, fire them, or promote them, with little explanation.

These stories of course do not deny that China has made great strides toward inclusive economic institutions, strides that underpin its spectacular growth rates over the past thirty years. Most entrepreneurs have some security, not least because they cultivate the support of local cadres and Communist Party elites in Beijing. Most state-owned enterprises seek profits and compete in international markets. This is a radical change from the China of Mao. As we saw in the previous chapter, China was first able to grow because under Deng Xiaoping there were radical reforms away from the most extractive economic institutions and toward inclusive economic institutions. Growth has continued as Chinese economic institutions have been on a path toward greater inclusiveness, albeit at a slow pace. China is also greatly benefiting from its large supply of cheap labor and its access to foreign markets, capital, and technologies.

Even if Chinese economic institutions are incomparably more inclusive today than three decades ago, the Chinese experience is an example of growth under extractive political institutions. Despite the recent emphasis in China on innovation and technology, Chinese growth is based on the adoption of existing technologies and rapid investment, not creative destruction. An important aspect of this is that property rights are not entirely secure in China. Every now and then, just like Dai, some entrepreneurs are expropriated. Labor mobility is tightly regulated, and the most basic of property rights, the right to sell one’s own labor in the way one wishes, is still highly imperfect. The extent to which economic institutions are still far from being truly inclusive is illustrated by the fact that only a few businessmen and -women would even venture into any activity without the support of the local party cadre or, even more important, of Beijing. The connection between business and the party is highly lucrative for both. Businesses supported by the party receive contracts on favorable terms, can evict ordinary people to expropriate their land, and violate laws and regulations with impunity. Those who stand in the path of this business plan will be trampled and can even be jailed or murdered.

The all-too-present weight of the Communist Party and extractive institutions in China remind us of the many similarities between Soviet growth in the 1950s and ’60s and Chinese growth today, though there are also notable differences. The Soviet Union achieved growth under extractive economic institutions and extractive political institutions because it forcibly allocated resources toward industry under a centralized command structure, particularly armaments and heavy industry. Such growth was feasible partly because there was a lot of catching up to be done. Growth under extractive institutions is easier when creative destruction is not a necessity. Chinese economic institutions are certainly more inclusive than those in the Soviet Union, but China’s political institutions are still extractive. The Communist Party is all-powerful in China and controls the entire state bureaucracy, the armed forces, the media, and large parts of the economy. Chinese people have few political freedoms and very little participation in the political process.

Many have long believed that growth in China would bring democracy and greater pluralism. There was a real sense in 1989 that the Tiananmen Square demonstrations would lead to greater opening and perhaps even the collapse of the communist regime. But tanks were unleashed on the demonstrators, and instead of a peaceful revolution, history books now call it the Tiananmen Square Massacre. In many ways, Chinese political institutions became more extractive in the aftermath of Tiananmen; reformers such as Zhao Ziyang, who as general secretary of the Communist Party lent his support to the students in Tiananmen Square, were purged, and the party clamped down on civil liberties and press freedom with greater zeal. Zhao Ziyang was put under house arrest for more than fifteen years, and his public record was gradually erased, so that he would not be even a symbol for those who supported political change.

Today the party’s control over the media, including the Internet, is unprecedented. Much of this is achieved through self-censorship: media outlets know that they should not mention Zhao Ziyang or Liu Xiaobo, the government critic demanding greater democratization, who is still languishing in prison even after he was awarded the Nobel Peace Prize. Self-censorship is supported by an Orwellian apparatus that can monitor conversations and communications, close Web sites and newspapers, and even selectively block access to individual news stories on the Internet. All of this was on display when news about corruption charges against the son of the general secretary of the party since 2002, Hu Jintao, broke out in 2009. The party’s apparatus immediately sprang into action and was not only able to prevent Chinese media from covering the case but also managed to selectively block stories about the case on the New York Times and Financial Times Web sites.

Because of the party’s control over economic institutions, the extent of creative destruction is heavily curtailed, and it will remain so until there is radical reform in political institutions. Just as in the Soviet Union, the Chinese experience of growth under extractive political institutions is greatly facilitated because there is a lot of catching up to do. Income per capita in China is still a fraction of that in the United States and Western Europe. Of course, Chinese growth is considerably more diversified than Soviet growth; it doesn’t rely on only armaments or heavy industry, and Chinese entrepreneurs are showing a lot of ingenuity. All the same, this growth will run out of steam unless extractive political institutions make way for inclusive institutions. As long as political institutions remain extractive, growth will be inherently limited, as it has been in all other similar cases. 

The Chinese experience does raise several interesting questions about the future of Chinese growth and, more important, the desirability and viability of authoritarian growth. Such growth has become a popular alternative to the “Washington consensus,” which emphasizes the importance of market and trade liberalization and certain forms of institutional reform for kick-starting economic growth in many less developed parts of the world. While part of the appeal of authoritarian growth comes as a reaction to the Washington consensus, perhaps its greater charm—certainly to the rulers presiding over extractive institutions—is that it gives them free rein in maintaining and even strengthening their hold on power and legitimizes their extraction.

As our theory highlights, particularly in societies that have undergone some degree of state centralization, this type of growth under extractive institutions is possible and may even be the most likely scenario for many nations, ranging from Cambodia and Vietnam to Burundi, Ethiopia, and Rwanda. But it also implies that like all examples of growth under extractive political institutions, it will not be sustained. 

In the case of China, the growth process based on catchup, import of foreign technology, and export of low-end manufacturing products is likely to continue for a while. Nevertheless, Chinese growth is also likely to come to an end, particularly once China reaches the standards of living level of a middle-income country. The most likely scenario may be for the Chinese Communist Party and the increasingly powerful Chinese economic elite to manage to maintain their very tight grip on power in the next several decades. In this case, history and our theory suggest that growth with creative destruction and true innovation will not arrive, and the spectacular growth rates in China will slowly evaporate. But this outcome is far from preordained; it can be avoided if China transitions to inclusive political institutions before its growth under extractive institutions reaches its limit. Nevertheless there is little reason to expect that a transition in China toward more inclusive political institutions is likely or that it will take place automatically and painlessly.

Even some voices within the Chinese Communist Party are recognizing the dangers on the road ahead and are throwing around the idea that political reform—that is, a transition to more inclusive political institutions, to use our terminology—is necessary. The powerful premier Wen Jiabao has recently warned of the danger that economic growth will be hampered unless political reform gets under way. We think Wen’s analysis is prescient, even if some people doubt his sincerity. But many in the West do not agree with Wen’s pronouncements. To them, China reveals an alternative path to sustained economic growth, one under authoritarianism rather than inclusive economic and political institutions. But they are wrong. We have already seen the important salient roots of Chinese success: a radical change in economic institutions away from rigidly communist ones and toward institutions that provide incentives to increase productivity and to trade. Looked at from this perspective, there is nothing fundamentally different about China’s experience relative to that of countries that have managed to take steps away from extractive and toward inclusive economic institutions, even when this takes place under extractive political institutions, as in the Chinese case. China has thus achieved economic growth not thanks to its extractive political institutions, but despite them: its successful growth experience over the last three decades is due to a radical shift away from extractive economic institutions and toward significantly more inclusive economic institutions, which was made more difficult, not easier, by the presence of highly authoritarian, extractive political institutions.

A DIFFERENT TYPE of endorsement of authoritarian growth recognizes its unattractive nature but claims that authoritarianism is just a passing stage. This idea goes back to one of the classical theories of political sociology, the theory of modernization, formulated by Seymour Martin Lipset. Modernization theory maintains that all societies, as they grow, are headed toward a more modern, developed, and civilized existence, and in particular toward democracy. Many followers of modernization theory also claim that, like democracy, inclusive institutions will emerge as a by-product of the growth process. Moreover, even though democracy is not the same as inclusive political institutions, regular elections and relatively unencumbered political competition are likely to bring forth the development of inclusive political institutions. Different versions of modernization theory also claim that an educated workforce will naturally lead to democracy and better institutions. In a somewhat postmodern version of modernization theory, New York Times columnist Thomas Friedman went so far as to suggest that once a country got enough McDonald’s restaurants, democracy and institutions were bound to follow. All this paints an optimistic picture. Over the past sixty years, most countries, even many of those with extractive institutions, have experienced some growth, and most have witnessed notable increases in the educational attainment of their workforces. So, as their incomes and educational levels continue to rise, one way or another, all other good things, such as democracy, human rights, civil liberties, and secure property rights, should follow.

Modernization theory has a wide following both within and outside academia. Recent U.S. attitudes toward China, for example, have been shaped by this theory. George H. W. Bush summarized U.S. policy toward Chinese democracy as “Trade freely with China and time is on our side.” The idea was that as China traded freely with the West, it would grow, and that growth would bring democracy and better institutions in China, as modernization theory predicted. Yet the rapid increase in U.S.-China trade since the mid-1980s has done little for Chinese democracy, and the even closer integration that is likely to follow during the next decade will do equally little.

The attitudes of many about the future of Iraqi society and democracy in the aftermath of the U.S.-led invasion were similarly optimistic because of modernization theory. Despite its disastrous economic performance under Saddam Hussein’s regime, Iraq was not as poor in 2002 as many sub-Saharan African nations, and it had a comparatively well-educated population, so it was believed to be ripe ground for the development of democracy and civil liberties, and perhaps even what we would describe as pluralism. These hopes were quickly dashed as chaos and civil war descended upon Iraqi society.

Modernization theory is both incorrect and unhelpful for thinking about how to confront the major problems of extractive institutions in failing nations. The strongest piece of evidence in favor of modernization theory is that rich nations are the ones that have democratic regimes, respect civil and human rights, and enjoy functioning markets and generally inclusive economic institutions. Yet interpreting this association as supporting modernization theory ignores the major effect of inclusive economic and political institutions on economic growth. As we have argued throughout this book, it is the societies with inclusive institutions that have grown over the past three hundred years and have become relatively rich today. That this accounts for what we see around us is shown clearly if we look at the facts slightly differently: while nations that have built inclusive economic and political institutions over the last several centuries have achieved sustained economic growth, authoritarian regimes that have grown more rapidly over the past sixty or one hundred years, contrary to what Lipset’s modernization theory would claim, have not become more democratic. And this is in fact not surprising. Growth under extractive institutions is possible precisely because it doesn’t necessarily or automatically imply the demise of these very institutions. In fact, it is often generated because those in control of the extractive institutions view economic growth as not a threat but a support to their regime, as the Chinese Communist Party has done since the 1980s. It is also not surprising that growth generated by increases in the value of the natural resources of a nation, such as in Gabon, Russia, Saudi Arabia, and Venezuela, is unlikely to lead to a fundamental transformation of these authoritarian regimes toward inclusive institutions.

The historical record is even less generous to modernization theory. Many relatively prosperous nations have succumbed to and supported repressive dictatorships and extractive institutions. Both Germany and Japan were among the richest and most industrialized nations in the world in the first half of the twentieth century, and had comparatively well-educated citizens. This did not prevent the rise of the National Socialist Party in Germany or a militaristic regime intent on territorial expansion via war in Japan—making both political and economic institutions take a sharp turn toward extractive institutions. Argentina was also one of the richest countries in the world in the nineteenth century, as rich as or even richer than Britain, because it was the beneficiary of the worldwide resource boom; it also had the most educated population in Latin America. But democracy and pluralism were no more successful, and were arguably less successful, in Argentina  than in much of the rest of Latin America. One coup followed another and even democratically elected leaders acted as rapacious dictators. Even more recently there has been little progress toward inclusive economic institutions and  twenty-first-century Argentinian governments can still expropriate their citizens’ wealth with impunity.

All of this highlights several important ideas. First, growth under authoritarian, extractive political institutions in China, though likely to continue for a while yet, will not translate into sustained growth, supported by truly inclusive economic institutions and creative destruction. Second, contrary to the claims of modernization theory, we should not count on authoritarian growth leading to democracy or inclusive political institutions. China, Russia, and several other authoritarian regimes currently experiencing some growth are likely to reach the limits of extractive growth before they transform their political institutions in a more inclusive direction—and in fact, probably before there is any desire among the elite for such changes or any strong opposition forcing them to do so. Third, authoritarian growth is neither desirable nor viable in the long run, and thus should not receive the endorsement of the international community as a template for nations in Latin America, Asia, and sub-Saharan Africa, even if it is a path that many nations will choose precisely because it is sometimes consistent with the interests of the economic and political elites dominating them."

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Anomia e Anarcocapitalismo

[entre aspas o início do livro "A lei e a Ordem", de Ralf Dahrendorf, da série Cadernos Liberais]

"Em Berlim, em fins de abril de 1945, os sinais de decomposição eram inconfundíveis. Em nossa calma rua de subúrbio, eu não era o único que estivera se escondendo durante semanas, num tipo de prisão domiciliar voluntária. Na casa ao lado, um jovem em visita a parentes, a caminho de sua unidade do exército, havia prolongado sua estada por tempo indeterminado, à espera do fim. Agora, a situação estava mudando. Do outro lado da rua, oficiais da SS não mais entravam e saíam da casa da linda viúva e de suas filhas; em breve, os lençóis seriam pendurados nas janelas, indicando a rendição aos oficiais das forças de ocupação. Outros tinham mais dificuldades em se adaptar. O militar aposentado da casa um pouco mais abaixo colocava munição em sua arma para matar a esposa e, em seguida, suicidar-se, pois o casal não poderia suportar  momento de vergonha para a nação. Em outras partes, disparavam-se tiros de forma mais arbitrária. Um jovem fanático feria um líder da juventude hitlerista, por este haver ousado sugerir que Hitler conduzira a Alemanha à desgraça. Será que o Fuehrer ainda estava vivo? Tornou-se subitamente claro que não restava mais nenhuma autoridade, absolutamente nenhuma.

Começaram os boatos. Os armazéns militares no bosque ao lado estavam desertos! Seria verdade? Fui verificar, junto com o jovem da casa ao lado, e descobrimos os armazéns sem qualquer sinal de guardas e ocupantes. Agarramos uma bandeja com mais de vinte quilos de carne fresca e a carregamos para casa, onde minha mãe apressou-se em cozinha-la, no porão, no caldeirão de ferver roupas. As lojas ao redor da estação vizinha ao metrô haviam sido abandonadas! Quando lá cheguei, dúzias de pessoas, talvez centenas, desmontavam balcões e prateleiras; as mercadorias existentes já haviam sido levadas. A única exceção era a livraria, onde alguns conhecedores faziam suas escolhas. Ainda tenho comigo os cinco pequenos volumes de poesia romântica que adquiri naquela ocasião. Adquiri? Todos levavam para casas sacolas e malas repletas de coisas roubadas. Roubadas? “Levadas” talvez seja mais correto, pois mesmo a palavra “furto” parecia haver perdido seu significado.

Foi então que os primeiros oficiais russos apareceram em nossa rua, fazendo-nos lembrar que novas autoridades já se aproximavam. Eles iniciaram seu domínio da mesma forma que os antigos terminaram o deles, com um vasto alarde de atos arbitrários de violência e, muito ocasionalmente, também de atos de solidariedade. Quando meu professor de História, um antinazista de convicções prussianas, abriu a porta de sua casa, foi simplesmente baleado e morto por um soldado russo. Uma senhora idosa, a ser interrogada por um soldado montado a cavalo sobre qual a razão de ela estar chorando, respondeu que o outro soldado acabara de lhe roubar a bicicleta, e o russo, para grande espanto da boquiaberta senhora, desceu e ofereceu as rédeas, dizendo-lhe calmamente que levasse o cavalo no lugar da bicicleta. A guerra de todos contra todos era também um estado de compaixão espontânea. E, é claro, nenhuma das situações perdurou. O momento supremo e horrível da falta de leis não passava de uma interrupção breve de respiração, entre dois regimes cuja respiração pesada se fazia sentir de forma similar sobre as espinhas dobradas de seus súditos. Como o êxtase amedrontador da revolução, o momento passou. Enquanto as leis absolutas de ontem tornavam-se a injustiça absoluta do amanhã – e a injustiça de ontem, as leis do amanhã –, houve  uma breve pausa de anomia, não mais do que poucos dias, acrescidos de algumas semanas em cada lado: primeiro para se desmontar e, depois, então, para se restabelecer as normas.”

Como eu sei que haverá quem ignore os dois primeiros parágrafos para, baseando-se somente no terceiro, vir dizer “tá vendo que o problema é o Estado?”, devo lembrar que se houve, realmente, muitos problemas com os Governos Nazista e Soviético, devemos lembrar que na porção Ocidental da Alemanha NÃO foi, em absoluto, essa a tônica e que o objetivo do livro de Ralf Dahrendorf é, justamente, ressaltar o perigo da Anomia.


Anomia, termo criado por Durkheim, é composta por “nomos” [lei], somado à partícula negativa “a”, e o contexto em que Durkheim o utilizou torna-o bem sutil, qual seja, em seu livro sobre o suicídio, no qual tenta indicar a relação entre “falta de chão” ou “desvios do padrão normativo social” e a desintegração do suicida. Especificamente no espectro político a anomia remete à desintegração social que advém do enfraquecimento das instituições que alicerçam a sociedade mesma e que pode, então, levar a tiranias. E, aqui, entra a discussão sobre a viabilidade do anarcocapitalismo em algum lugar específico enquanto AINDA estamos em um mundo em que existem Estados autoritários e nem um pouco preocupados com as liberdades individuais, por exemplo [e, sim, há Estados que primam por uma organização social o mais harmônica possível, pela defesa do mais fraco ante o mais forte, enfim, pela distribuição equânime da justiça e dos direitos].

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Por Direito Penal que proteja o criminoso em vez de proteger a vítima? É isso mesmo,produção?



Olhem a conversa do cidadão..."as prisões são criminogÊnicas" "prisão não diminui criminalidade", argumentos enviesados pois a intenção primeira do Direito Penal NÃO é corrigir/transformar o criminoso, isso é balela, a função primeira do Direito Penal é [ou deveria ser] de proteção ao direito das VÍTIMAS.  Essas conversas de que o criminoso "ao sair encontra as mesmas situações adversas que o levaram a delinquir" [se assim fosse, a maioria de nossa população pobre seria criminosa E não haveria criminosos "bem de vida"]" e de que a culpa maior é da sociedade por tratar o egresso como potencial reincidente FORÇANDO-O a voltar a delinquir [ou seja, mais uma vez desprezando os que, sim, se redimem] é simplesmente ABJETA e trata de aliviar a responsabilidade do réu por seus atos para colocá-la na sociedade. Isso de que sem uma sociedade justa [ou seja, numa em que não haja desigualdades] o Direito Penal não pode se voltar positivamente contra o crime é criminologia/sociologia BARATA, no máximo um marxismo vulgar aplicado ao Direito Penal. E, repito, é achar que a pobreza, por si, gera a criminalidade [ou seja, o suposto defensor dos pobres é o primeiro a ter preconceito contra os mesmos... ou um pobre é um CRIMINOSO EM POTENCIAL??]. O problema todo é, realmente, um Direito Penal que se importe precipuamente com o CRIMINOSO - em detrimento da vítima. Eu, realmente, não consegui assistir nem sete minutos do vídeo, faltou estômago. Quem conseguir,por favor deixe no comentários suas impressões ou, sei lá, digam se, por acaso, o ~Doutor~ conseguiu dar alguma bola dentro.

A Esquerda Revolucionária

*Por Cesar Ailson Barros

A esquerda revolucionária comunga de alguns ideais pró-liberdade somente "pro forma". Eles adotam políticas pró-gays, pró-mulheres etc., só da boca pra fora, o que eles querem é PODER. Uma vez conquistado o poder, FODAM-SE as minorias, como a história bem ensinou.


Resumo: os conservadores são, ao menos, honestos em suas intenções e convicções. Revolucionários? Querem apenas angariar a simpatia dos idiotas úteis e, uma vez conseguido o poder, estes serão os primeiros a serem descartados. Não precisamos nos unir com a esquerda revolucionária, precisamos DESMASCARÁ-LA!

sábado, 7 de dezembro de 2013

Diogo Costa FTW


"Por boa parte do tempo em que morei em Washington, da janela do meu apartamento eu via a imagem abaixo.


Uma casa de dois andares pressionada por dois gorilas de prédios. A construtora dos prédios havia tomado todo o quarteirão, menos aquela casa, que ali permanecia excêntrica e anacrônica. Fiquei curioso. Por que só aquela construção não havia sido demolida para dar espaço a novos projetos milionários? O dono de uma loja de conveniência do outro lado da rua me deu a resposta: por causa do direito à propriedade privada. A construtora que comprou todos os imóveis do quarteirão não conseguiu convencer um proprietário específico a se desfazer do seu. Nem os US$2 milhões que ela supostamente ofereceu conseguiram derrubar o direito do dono.

Difícil imaginar o motivo da recusa. Aquele era um trecho antes habitado quase que exclusivamente por pessoas de baixa renda. Não deve ter sido difícil fazer uma proposta que parecesse irrecusável a cada morador. Por que apenas um sujeito resistiu? Queria dizer que era por um passado romântico como o do velhinho do UP. Mas a coisa foi mais ordinária. Uns me disseram que ele pretendia abrir um negócio. Outros, que estava apostando na valorização futura do seu imóvel. 

O bonito da história é que não importa o motivo. Ele não teve que se justificar perante um tribunal ou um conselho comunitário. Não teve que demonstrar como a preservação da sua casa geraria externalidades positivas para o resto da cidade. Bastou dizer "não, obrigado". A propriedade privada lhe serviu de escudo. Nem todo o poder econômico foi capaz de retirar a casa do seu dono. E lá a casa se mantém: feia, desperdiçada, debochada, mas de pé como um dedo do meio aos que quiseram destruí-la.

Iniciativa privada não é a mesma coisa que propriedade privada. A sua propriedade serve de barreira às ambições invasivas da minha iniciativa. O escritor G.K. Chesterton sabia disso. Ele escreveu em The Outline of Sanity de 1927 que "um batedor de carteiras é obviamente um fomentador da iniciativa privada. Mas seria talvez um exagero dizer que um batedor de carteiras é um fomentador da propriedade privada."

De batedores de carteira em 1927 para Eike Batista em 2012. No ano passado, o município de São João da Barra, RJ começou a desapropriação de 401 propriedades (número oficial) numa área de 70 milhões de metros quadrados. Famílias e fazendas deveriam ser removidas para que o terreno fosse ocupado pelos empreendimentos do grupo EBX. Peço que vejam esse vídeo (4:19) mostrando o processo de remoção:

No otimismo de um ano atrás, o sujeito responsável pelo processo de desapropriação afirmava que a instalação da EBX traria benefícios para os agricultores e para seus filhos — o conhecido argumento de que para se fritar uma omelete é preciso antes quebrar alguns ovos. E agora, tantos ovos quebrados e nem vai haver óleo para fritar a omelete.

A apresentadora do telejornal do vídeo ainda apresenta o problema como um dilema entre "produtores rurais que vivem ali" e o "desenvolvimento batendo à porta". Um verbo mais apropriado seria "arrombando". Bater à porta é o costume de uma civilização que entende os limites da propriedade privada, de visitantes que esperam pelo convite do dono da casa para poderem entrar. Onde se bate à porta, empresas têm de negociar com os proprietários, não com o governo do estado. Onde se bate à porta, a polícia age em proteção à nossa propriedade, não a serviço de quem paga mais. Onde se bate à porta, uma única casa pode ser a exceção aos mais magníficos projetos de construção civil. Onde se bate à porta não se batem carteiras.

Políticos prometem cestas e bolsas para os pobres; prometeram "auxílio-produção" aos desapropriados. Mas negam aos pobres exatamente aquilo que pode fazer com que eles não dependam mais de cestas nem de bolsas: o direito de serem donos das suas coisas. Em vez disso, os pobres permanecem dependentes de favores na época de eleições, de decisões políticas tomadas em gabinetes fechados, da boa vontade do judiciário e de deliberações intermináveis travadas em conselhos comunitários.

No vídeo, o Sr. Manoel Toledo faz (2m30) um comovente depoimento de dignidade através da produção: "a única coisa que eu não vou aceitar é sacolão de comida, que eu nunca precisei de sacolão de comida de ninguém".  Dar ao pobre o direito de ser dono de suas coisas é lhe conferir o direito de não ser dominado, chantageado. "Os direitos de propriedade podem munir uma pessoa com segurança pessoal, escreve John Tomasi em Free Market Fairness, "cidadãos com esses direitos sabem que eles podem se agarrar a alguma coisa que não pode ser tirada deles."

Ao investigar as consequências econômicas da falta de direito de propriedade entre as populações mais pobres do continente, Hernando de Soto se projetou como o mais influente economista sul-americano da sua geração. Só nas terras que os latino-americanos possuem de fato, mas não de direito, De Soto descobriu que os pobres da América Latina estavam sentados em cima de quase 10 bilhões de dólares. Sem título de propriedade, não podiam capitalizar em cima desse valor.

Se o governo do estado do Rio realmente quiser avançar o bem-estar das famílias pobres, deve sair da contramão. Em vez de desapropriar terras em favor das empresas mais ricas do país, deveria expandir projetos de concessão de títulos de propriedade a moradores das áreas mais pobres do estado. É o que o Projeto Cantagalo está fazendo em Copacabana. E é o que deveria ser feito por todo o Brasil.

O problema da forma que se conduz o capitalismo, dizia Chesterton, "é que se tem pregado a expansão dos negócios em vez da preservação dos pertences. O melhor que conseguem fazer é disfarçar o batedor de carteiras com as virtudes do pirata."

No Brasil de Eike e na Inglaterra de Chesterton, o mesmo problema esvazia os bolsos e a dignidade dos pobres: o capitalismo é privilégio dos ricos e o socialismo é a promessa dos pobres. Chesterton sabia que a solução não era socialismo para todos. Lembrava que "o comunismo apenas resolve o problema de se bater carteiras proibindo as carteiras." A solução era, e ainda é, capitalismo para os pobres. E capitalismo começa com propriedade privada."

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Impressões sobre o debate

*por Santiago Staviski

O "debate" de ontem no bloco de Filosofia da UFAL foi marcado por desrespeito, falta de educação, falácias e, o principal, uma total falta de argumentos por parte dos defensores do socialismo/comunismo/marxismo. O militante Ésio, que palestrou no evento, parecia um aprendiz de pastor, apelava para a emoção constantemente em uma reflexão fraquíssima contra a "burguesia" e o capitalismo, constantemente confundindo governo com capitalismo. Já o professor Arthur Bispo, era realmente um pastor evangélico, cujo discurso "revolucionário" utilizava a argumentação de que "os liberais não entenderam Marx", "Marx refutou todos os liberais clássicos". Incrivelmente não apresentou nenhum fundamento, já que, pelo visto, ele foi ali não para debater mas sim para evangelizar [e foi efusivamente aplaudido - de pé - por alguns], em um discurso exaltado e raivoso contra o capitalismo, que me lembrou Fidel Castro.
Meu amigo, Adrualdo Catão, foi brilhante, explicou o direito natural, a propriedade e a propriedade do próprio corpo como a base para o liberalismo (self-ownership), e explicou como o comunismo e a propriedade coletivizada só leva a escravidão. Foi “rebatido” com o discurso de que Locke possuía ações em uma empresa escravagista, no que ele lembrou muito bem que Platão e Aristóteles estavam longe de serem liberais mas que isso não invalidaria suas teses. Meu amigo Lucas Nutels não soube explicar muito bem a teoria do valor subjetivo, por falta de experiência em debates, acredito eu, mas na hora das perguntas e respostas foi sensacional, lembrando, inclusive, que ali estavam vários militantes pela causa do proletariado que beiravam os trinta anos e nunca haviam trabalhado.
Chegada a hora das perguntas no debate, os comunistas do bloco de Filosofia e Ciências Sociais não refutaram coisa alguma do argumento liberal e beiraram à loucura, uns 20 alunos mandaram o Adrualdo ir estudar Marx, quase o xingaram, chegando a questionar: "como permitem alguém falar essas coisas aqui?", ou seja, claramente esse pessoal não tem interesse nenhum no debate, querem ganhar tudo no grito e detestam a pluralidade de ideias. São fanáticos que sofreram lavagem cerebral, é algo surreal. Todas as "perguntas" dos colegas socialistas eram um discurso inflamado contra o capitalismo, que beirava o ridículo. Alguns exemplos: "meu pai tá na fila para conseguir tratamento de câncer no SUS, culpa do capitalismo", "tem um mendigo catando lixo em frente a meu prédio, culpa do capitalismo [não passou pela cabeça do gênio abrir as portas de casa ao mendigo; ou painho não deixaria?]", “que liberdade é essa em que eu não sou livre para montar uma fábrica de refrigerantes para concorrer com a coca-cola?”. Teve até um showzinho de um conhecido que não sabia se expressar, não disse nada com nada, mas como falou bem alto e de maneira inflamada, resultado: a esquerda aplaudiu, mesmo não fazendo qualquer sentido o que ele falou [algo como ser arrogante e absurdo defender o liberalismo em uma universidade pública e o quanto nós éramos inocentes e servis “ao sistema”].
Outro participante chegou ao absurdo de dizer que a fome na Ucrânia soviética (Holodomor) foi culpa do imperialismo capitalista, e por aí seguiu a tortura, com vários esquerdopatas repetindo o mesmo "argumento" anti-capitalista, demonstrando uma completa falta de bom senso, respeito e honestidade intelectual desses esquerdopatas do bloco de Filosofia e Ciências Sociais. Uma perda de tempo, já que esse pessoal não está nem um pouco interessado na discussão de idéias diversificadas. Esse pessoal despreza o pequeno empreendedor [várias vezes trataram com escárnio o pipoqueiro, o vendedor de caldo de cana] e quer uma sociedade controlada, mas por eles, é claro, porque o trabalhador é um alienado e precisa que eles gerenciem e ditem o que é melhor para ele [como o militante Ésio mesmo disse: "a burguesia vai tremer", bem ao estilo Che Guevara] e ainda saíram cantando vitória mesmo perdendo miseravelmente, numa demonstração do que é um pombo enxadrista debatendo.
Vergonha alheia for the win!