Quero que todo formando em qualquer licenciatura seja
obrigado a lecionar na rede pública por dois anos, recebendo a mesma bolsa que
os médicos estão achando pequena: R$ 10.000, 00.
Pois 10 mil reais é muito mais do que ganha a imensa maioria
dos profissionais em início de carreira. Um professor da rede pública nunca vai
ganhar isso. É um valor mais alto do que é pago ao professor universitário
concursado em início de carreira (que fez pelo menos 04 anos de graduação, com mais
02 de mestrado e mais 04 de doutorado, sem contar ainda com o pós-doutorado,
mais uns 02 anos).”
Então vamos lá esclarecer e discutir esse assunto. Primeiro, não existe bolsa de 10 mil reais para os recém-formados (mas ainda não diplomados) que terão de atender no SUS. O valor de 10 mil reais é para os médicos já formados, diplomados e carimbados que quiserem participar do programa "Mais Médicos" do governo federal. Esse mesmo SALÁRIO seria pago aos médicos estrangeiros que porventura venham ao Brasil (pelo que já vi, está difícil que médicos portugueses e espanhóis venham pra cá). O valor da bolsa para os recém-formados sequer foi definido, mas cogita-se que o valor fique entre 2.300 a no máximo 8 mil reais (isso nas regiões mais precárias). Muitos municípios pelo Brasil remoto já pagam salários mais elevados do que estes 10 mil, no entanto, os médicos não vão pra lá.
Um outro ponto interessante é esse de que o sujeito passou não sei quantos anos estudando e por isso merece ganhar X ou Y. Ora, não são os anos de estudo que definem o quanto o profissional deve receber. Há pedreiros ganhando mais do que professores simplesmente porque faltam pedreiros no mercado. Há outros fatores além da escolaridade que definem os salários.
Mas mesmo que fossemos considerar o tempo de estudo, não há carreira em que se estude mais do que a medicina. Atualmente, a graduação dura 6 anos. Tem-se mais 2 (ou 3) anos de residência em clínica médica e mais 1 ano de especialização. Só aí já se passaram 9 anos. Se o cara for para o mestrado ou doutorado, aí já viu, né?
Um ponto interessante nas discussões dessa natureza é o academicismo cartorial que sempre costuma dar o ar da graça. Do pós-graduado mundo afora cobram-se soluções. O pós-graduado brasileiro, no lugar das soluções, apresenta currículos e tempo de estudo.
Não há registro de vilarejos, cidades ou impérios construídos sem médicos, pedreiros, bombeiros, juízes, padeiros ou ferreiros. Talvez alguém imagine que lá nas cidadezinhas do interior do Acre as prefeituras andem precisando urgentemente de um doutor em Filosofia Escolástica ou Linguística com pós-doutorado em Harvard e queiram pagar-lhes 15 mil reais porque os caras estudaram muito e as escolas municipais estão precisando de professores que consigam dominar a obscura arte de alfabetizar as crianças na idade correta. Mas acredito que isso seja muito improvável.
Um comentário:
excelente! tão simples e tão ignorado...
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