HESÍODO VIVEU NO SÉCULO VIII antes de Cristo, e escreveu o poema "os trabalhos e os dias", do qual seguem dois trechos. No primeiro, o poeta filosofa sobre a guerra representar uma luta má, que só é feita por necessidade [ou por desígnios divinos; exemplo clássico: Tróia], enquanto um exemplo de luta boa seria... bem, leiam:
“Não há origem única de Lutas, mas sobre a terra
duas são! Uma louvaria quem a compreendesse,
condenável a outra é; em ânimo difere ambas.
Pois uma é guerra má e o combate amplia,
funesta! Nenhum mortal a preza, mas por necessidade,
pelos desígnios dos imortais, honram a grave Luta.
A outra nasceu primeira da Noite Tenebrosa
e a pôs Cronida altirregente no éter,
nas raízes da terra e para homens ela é melhor.
Esta desperta até o indolente para o trabalho:
pois um sente desejo de trabalho tendo visto
o outro rico apressado em plantar, semear e a
casa beneficiar; o vizinho inveja ao vizinho apressado
atrás de riqueza; BOA LUTA PARA OS HOMENS ESTA É [grifo nosso];
o oleiro ao oleiro cobiça, o carpinteiro ao carpinteiro,
o mendigo ao mendigo inveja e o aedo ao aedo”
INCRIVELMENTE, NO SÉCULO VIII A. C., já era sabido que, mesmo que haja escassez, o trabalho duro é melhor do que, simplesmente, roubar, pilhar. Na continuação do poema, Hesíodo se refere a Perses, seu irmão, o motivador da alusão à dignidade da recompensa por um trabalho limpo - e da indignidade dos "bens" decorrentes de pilhagem. Contexto: os dois peticionavam pela herança deixada pelo pai, da qual Perses, injustamente, se apoderou da maior parte. Para completar, uma amostra do quanto a corrupção é antiga:
“Ó Perses! mete isto em teu ânimo:
a Luta malevolente teu peito do trabalho não afaste
para ouvir querelas na ágora e a elas dar ouvidos.
Pois pouco interesse há em disputas e discursos
para quem em casa abundante sustento não tem armazenado
na sua estação: o que a terra traz, o trigo de Deméter.
Fartado disto, fazer disputas e controvérsias
contra bens alheios poderias. Mas não haverá segunda vez
para assim agires. Decidamos aqui nossa disputa
com retas sentenças, que, de Zeus, são as melhores.
Já dividimos a herança e tu de muito mais te apoderando
Levaste roubando e o fizeste também para seduzir reis
comedores-de-presentes, que este litígio querem julgar.
Néscios, não sabem quanto a metade vale mais que o todo
nem quanto proveito há na malva e no asfódelo ****
***os dois últimos versos reproduzem uma máxima fundamental da cultura grega ligada à idéia de se dever “observar a medida” e também à máxima délfica “nada em excesso”. O último verso deve também se referir a um dos Sete Sábios, Epimênides, que precisava, segundo a tradição, apenas de malva e asfódelo para se alimentar.”
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