A Terra que se foda
Por Andrew
Klavan
Dia 22 de abril é o Dia da Terra, e para homenagear esta
ocasião, eu gostaria de dizer que por mim, a Terra que vá para o
inferno.
A Terra – para aqueles que ainda não perceberam – é uma
rocha condenada a uma lenta espiral eterna em um caldeirão de plasma explodido
que, por falta de um nome melhor, nós chamamos de sistema solar. Existe apenas
uma única coisa interessante ou digna à respeito deste pedaço de entulho
espacial condenado: ele proporciona as condições necessárias para manter a vida.
(Diga-se de passagem, a chance de isso ocorrer seria ridiculamente impossível se
Deus não existisse – tão impossível que cientistas foram obrigados a inventar
todo tipo de cenários bestas de multi-universos com o único propósito de se
convencerem que Deus não existe. Mas isto é problema deles e
irrelevante para mim.)
Então a Terra mantem a vida. Yuuupi! E existe apenas uma
coisa interessante e digna à respeito da vida – só uma – e esta coisa é a mente
humana.
“Cacete, o Klavan está falando de Cultura”, você deve ter
pensando, ou mesmo dito – porque, vamos ser sinceros, você é um tipo bem
esquisito de gente – quero dizer, basta olhar pra você. De qualquer maneira,
“Duplo Cacete”, você deve estar dizendo, “como é que você pode dizer que a mente
do homem é a única coisa interessante e digna à respeito da vida? E quanto a
beleza de uma gazela correndo? E a nobreza do voo de uma águia? E o
impressionantemente impressionante céu sobre as ondas âmbar chocando-se nas
montanhas roxas sobre planícies com pomares? E quanto aqueles sonhos glaceados
recheados com creme? Eu amo esses sonhos de padaria!”
Primeiro de tudo, pare de falar tanta coisa, este blog é
meu. E dois, não existe nenhuma beleza, ou nobreza, ou algo impressionantemente
impressionante – nem mesmo o sabor de um sonho de creme – fora da mente humana.
A ciência ainda não se decidiu, mas a própria realidade pode ser em parte um
produto da mente humana pois há alguns aspectos do mundo que não parecem se
resolver até que os observemos. Mas de qualquer maneira, a gazela estaria em
disparada por nada, a águia seria uma máquina alada de comer, os céus e as ondas
e as montanhas seriam sonhos sem sonhadores se o homem não estivesse aqui para
contempla-los.
No momento que você percebe isso, tudo muda. Você não se
preocupa mais com o esgotamento de recursos energéticos da Terra, porque você
percebe que não existem recursos energéticos – nunca existiram – existe somente
formas variadas de matéria que nossas mentes, a mente do homem, transforma em
recursos energéticos para nosso prazer e comodidade. Eles nunca irão se esgotar
enquanto estivermos aqui, porque nossa mente não tem limites e irá inventar
mais.
Você não se preocupa mais com poluição, porque você sabe
que assim que pessoas livres se incomodem com isso, outras pessoas livres
resolverão o problema com motores de combustão menos poluentes e filtros. Onde está o fog londrino? Onde está a neblina de Los Angeles?
Onde está a neve dos últimos anos? Ok, eu só tinha curiosidade sobre este
último.
Você não se preocupa mais com a Terra, porque a Terra está
aqui para nós, e não o contrário. A Terra não é nada além do local que vivemos
– por enquanto. Devemos mantê-la razoavelmente limpa e agradável. Mas uma
obsessão doentia por uma limpeza impecável te transforma em um repressor
pentelho – ou um ambientalista – e torna a vida das pessoas menos confortável,
não mais.
Sempre pratiquei atividades na natureza. Eu passeio. Eu pesco. Eu corro pelas florestas reproduzindo
cenas do filme O Amante de Lady
Chatterley. Ou eu fazia isso, antes de ser impedido por uma ordem
judicial. Eu acredito que uma precaução razoável pelo bem do ambiente deveria
balancear a busca do lucro daquelas pessoas incríveis que nos proporcionam toda
a maravilhosa energia que precisamos. Eu acredito que podemos chegar nesta
precaução razoável enterrando todos os ambientalistas que conseguirmos encontrar
até o pescoço e jogando mel na cabeça deles para atrair formigas. Vocês gostam
de formigas, não gostam? Então aí está um ótimo jeito de celebrar o Dia da
Terra!
A Terra não está aquecendo de forma catastrófica. Extração
de petróleo não causa terremotos. Devemos encontrar e usar cada gota de
petróleo que conseguirmos – há o suficiente para mais alguns séculos, época em
que estaremos vivendo na Alfa Centauro, abastecendo nossos carros voadores com
papel higiênico ou páginas velhas da biografia de Barack Obama ... desculpem a
redundância.
Então que se foda o Dia da Terra. Eu gostaria de declarar
hoje – e todos os outros dias – o Dia da Mente do Homem. Celebre isto – promova
isto – glorifiquem isto – porque a Terra, podem acreditar em mim, vai se virar
sozinha.
Andrew Klavan é um premiado autor e roteirista de
Hollywood.
Tradução de
Fernando Chiocca
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