sábado, 29 de junho de 2013

A chefa e os sábios certificados pelo Inmetro: uma fábula do novo Brasil.


Num belo dia ensolarado, naquele país sul-americano conhecido como Canadá dos Trópicos, a chefa maior da nação resolveu reunir-se com os mais sábios entre os sábios de seu país. A nata dos diplomados e carimbados intelectuais, certificados pelo Cartório Federal de Avaliação da Sabedoreza do Ministério da Educação, os membros devidamente registrados no Conselho Federal de Intelectualidade, foram todos convocados para debater um problema que começava a incomodar a chefa. 

- Meus prezados conselheiros, peço que aceitem as minhas escusas desculposas e que me perdoem e não me queiram mal por havê-los tirado de vossos afazeres para vir até aqui aconselhar aquela que, mesmo sendo muito sábia, não pode prescindir da vossa colaboração. Sei o quantos ocês são tarefados (sic) e vivem enfurnados em suas pesquisas e projetos importantes. Mas teincácomigo que um tempindocês (dialeto de uma certa região do Canadá dos Trópicos) eu poderia requisitar para um probleminha que afeta a todos no Brasil.

- Que problema, chefa?

- É o seguinte, meus meninos e meninas brilhantes e pesquisantes, eu preciso da vossa colaboração para resolver um problema, um troçaquí que não tá nada bão. O nosso povo canadense anda danado de fazer reclamação das nossas estradas. Tem um baita monte de gente reclamando que as estradas estão cheias de buracos. E que o prejuízo com pneus furados e rodas empenadas está muito grande. O que eu quero é que os senhores, grandes professores, doutores e sabedores de várias coisas ocultas e difíceis aconselhem sua chefa sobre o que fazer a respeito.

- Está bem, chefa. Sua majestade terá as respostas que deseja. 

Durante alguns dias, a nata do pensamento do Canadá dos Trópicos refletiu sobre o assunto. Elaborou um relatório de 800 páginas sobre o problema. Um resumo foi apresentado a chefa da nação numa solenidade cercada de toda a pompa e com ampla cobertura da imprensa. 

O porta-voz dos intelectuais leu a conclusão do relatório de 800 páginas.

- Excelentíssima chefa da nação. É com grande prazer que comunicamos nossas conclusões a respeito do problema dos pneus furados. Após vários dias de intensos debates dialéticos e análises empíricas e alguma bruxaria, chegamos a uma conclusão que certamente irá solucionar os problemas dos caminhoneiros e viajantes do nosso país. Propomos que a senhora chefa da nação amplie o percentual do PIB destinado à pesquisa sobre rodas e pneus para sabermos o que há de errado com eles. Nosso país não pode ficar refém da ignorância e sofrer as consequências do uso de tecnologia ultrapassada. É preciso investir na promoção do conhecimento e na pesquisa. Destinar mais bolsas para formação de doutores, investir na inteligência desse país.

Satisfeitíssima com a solução dos sábios, a chefa da nação ordenou a seus vassalos que liberassem a grana. O Canadá Tropical não mais iria padecer com o problema da rodas e pneus. 

- Nunca antes na história desse país se investiu tanto na inteligência e na educação, disse a chefa. Valeu a pena!

E viveram felizes para sempre.

Edital para licitação dos Transporte Coletivo será lançado até dezembro, afirma SMTT

Notícia: http://www.alagoas24horas.com.br/conteudo/?vCod=151205 

 Só digo que esse edital e essa licitação não vai melhorar em nada o transporte público, a única maneira de melhorar o transporte público é desregulamentação e livre concorrência no sistema de preços de mercado. Mais planejamento central não vai adiantar em nada. A SMTT controla o monopólio do transporte público desde sempre, quando houve uma melhora? Só piorou com o tempo, e é no mínimo inocência achar que vai melhorar algo no transporte através de mesmo órgão, a SMTT.
"As universidades são a peste do mundo moderno, porque a cada 100 pessoas que despejam no mercado você tem 90 inúteis, inúteis, incapazes, ineptos, incompetentes, diplomados e metidos, então está se criando uma praga, todos vão ser doutores sem saber coisíssima nenhuma." Olavão falando a verdade.
"O controle da produção da riqueza é o controle da própria existência humana." ( Hilaire Belloc )
"Trabalhar no governo corrompe. Eu tenho observado em alguns de meus melhores amigos, que como resultado da guerra, enredaram-se em trabalho governamental e desde então são políticos, e não mais estudiosos." (Frederick August von Hayek)

segunda-feira, 3 de junho de 2013

falhas de mercado, falhas de governo e a percepção popular sobre isso

[em Market Failures, Government Solutions, and Moral Perceptions de Dwight R. Lee e J. R. Clark, publicado pelo Cato Institute ]
 


"It should be obvious to even the casual observer that both markets and governments fail—neither comes close to achieving perfection. Externalities, both positive and negative, are the most common explanation for market failures. The undersupply of public goods, for example, is seen as a market failure, and is the direct result of a positive externality being generated when a person contributes to a public good which, by definition, benefits others whether they contribute or not. Similarly, excess pollution is seen as a market failure resulting from the negative externality of people imposing uncompensated costs on others by emitting pollutants into the environment. But externalities are just as commonly the result of government activity as they are market activity. For example, many government transfers are best seen as negative externalities motivated by the desire of politically influential groups to benefit at the expense of others.
 

Yet when problems that capture public notice arise, the default response is almost always expanding government power to correct what are depicted as market failures. This is true even when the problem is largely caused by government policies (as in the case of the Great Recession) or entirely by government policies (as in the case of restricted competition in public education, K–12). Indeed, market failure is often used to justify government corrections when markets are working exactly as they should—for example, when government action is brought against a firm for expanding its market share at the expense of its competitors by providing better products or lower prices or both (antitrust). And market failure is often blamed for problems caused by the absence of markets (pollution problems) or when market arrangements have been greatly distorted by government interventions (medical care).






This is not an argument against an important role for government. Civil society and free market prosperity depend on government securing our liberty by protecting our persons and property against violence and theft, providing basic infrastructure and public goods unlikely to be privately provided, and enforcing the rules of private property and voluntary exchange that allow people to pursue their own objectives and solve most of their problems in productive cooperation with each other. But government’s proper role is a limited one. Unfortunately, when people see problems as the result of market failures that require government corrections, the limits on government action quickly begin to erode.


The tendency to favor government corrections to perceived market failures is not because people are unaware of government failures. Government failures in the form of poor outcomes and corruption are commonly reported in the news, possibly with as much frequency as market failures. The difference is that market failures are typically seen to be an inherent result of a process motivated by self-interest. On the other hand, there is a strong tendency for people to see political action as motivated primarily by concern for the public interest, with government failures more likely to be aberrations resulting from inevitable mistakes or, at worse, a few dishonest and venal politicians. Indeed, it is common for people to argue that electing more public-spirited and caring politicians would improve government, but one seldom hears anyone arguing that putting more public-spirited and caring CEOs in charge of our corporations would improve markets.

Standard Public Choice Explanation
Economists explain the different performance of markets and governments in terms of the different incentives embodied in their underlying processes, not in terms of the public-spiritedness of the relevant decisionmakers. They also explain the choice between the two alternatives—market performance and government performance—in terms of the incentives people face to favor one over the other. Public choice economists have developed arguments to explain why those incentives are such that the alternative that creates the largest social value in a particular situation is not always the one seen as most appealing by political decisionmakers.
Consider the explanation for the appeal of government “solutions” to correct market “failures” based on standard public choice arguments. Government solutions are seen to address problems directly in ways that are easily seen, and to be structured so that much of the benefits are concentrated on members of organized interests who greatly appreciate them, while the costs are widely dispersed, and therefore largely unnoticed. So even when the benefits are less than the costs, as is often the case, the incentives to support government solutions are strong and the incentives to oppose them are weak. In contrast, market solutions address problems indirectly by imposing discipline on, and removing privileges from, politically influential groups. The benefits of ending a government subsidy, for example, are widely dispersed and therefore largely ignored, but the costs are highly visible and concentrated on a special interest group with whom the public may sympathize. Governments are then often seen to succeed even when they fail, and markets seen to fail even when they succeed."







segunda-feira, 6 de maio de 2013

JÁ QUE O GAÚCHO DO DIOGO COSTA NÃO LIBERA O VÍDEO DELE SOBRE A CORÉIA DO NORTE VAI ESSE AQUI

ESSES ROMANOS SÃO UNS LOUCOS!!!!!!

[Ou não? Este é a parte final do segundo capítulo do livro "O Deus da Máquina" de Isabel Paterson, publicado no Reaçonaria.org ]

Quando uma nação passa por condições em que o costume se mostra perecível, a liderança desastrosa e a monarquia opressiva, a razão deve definir a fonte primária de autoridade, para investi-la em uma forma viável.
 
Por essa sequência, provavelmente encurtada, Roma tornou-se um laboratório político. O que entrou no cadinho precisa ser deduzido a partir dos mitos, lendas, tradições e instituições que se formaram nos obscuros séculos da história inicial da cidade. Não parece que Roma tenha sido nunca primitivamente bárbara, se a cidade teve seu princípio no comércio, usando dinheiro2 e tornando as terras propriedade privada; são elementos de uma civilização avançada. E as fábulas são frequentemente inconsistentes, como seria o caso se fossem parcialmente importadas e misturadas. Histórias como a de Rômulo e Remo e do estupro das Sabinas não podem ser aceitas literalmente; nem precisam ser de origem local. O roubo de noivas faz parte de uma cultura bárbara, na qual não há desonra. A crença de que uma loba amamentou Roma deve ser ainda mais antiga e pode ser derivada de um totem selvagem; mas não necessariamente, porque quando a Europa era bárbara, um proscrito era uma “cabeça de lobo”, uma antiquíssima figura de linguagem. A sugestão nas três histórias é de que Roma sempre foi mais ou menos uma cidade aberta, admitindo refugiados, exilados ou imigrantes. Eles trariam costumes variados que deveriam ser harmonizados segundo regras gerais.
De toda forma, a figura do asilo certamente se incorporou ao sistema social e legal romano e, por fim, criou o caráter especial da cidadania romana. Caracteristicamente, era necessário nascer grego, mas era possível se tornar romano.
 
Outra vez, podemos suspeitar de um resquício de antigas dificuldades em encontrar um modo avançado de associação que funcionasse, por causa de uma instituição peculiar a Roma. É uma instituição altamente extraordinária num povo civilizado, porque existia completamente fora da ordem social. Ninguém sabia exatamente qual a sua função, no sentido em que todos sabiam o que significavam as Virgens Vestais. Esse cargo realizou seu objetivo de maneira tão completa que o objetivo foi esquecido. Embora famosos por sua coragem militar, os romanos não praticavam duelos, nem toleravam a vingança privada informal. Porém, existia um homem, que devia ser um criminoso, dedicado a uma ocupação que tinha de ser conquistada e mantida por assassinato. Esse homem era o Sacerdote de Nemi, “beneath Aricia’s trees”.
 
Those trees in whose dim shadow
The ghastly priest doth reign,
The priest who slew the slayer,
And shall himself be slain.3
 
Quem estava incumbido desse posto sanguinário havia obtido essa função matando o ocupante anterior. Ele nunca poderia deixar o abrigo do bosque sagrado e estava permanentemente sujeito a ser atacado por outro fora-da-lei que conseguisse alcançar esse santuário da morte. O Sacerdote do Ramo Sagrado foi explicado com referências eruditas a ritos de sacrifício, o bode expiatório que carrega os pecados do povo ou o deus-rei que morreu e foi ressuscitado, como o sol, para garantir a fertilidade dos campos e da tribo. Esses rituais mágicos podem ter sido incorporados pelo sacerdócio de Nemi. Mas os romanos eram solidamente prosaicos até em suas superstições. Suas divindades eram principalmente úteis, com funções práticas definidas. Bem, em sua origem, havia um uso prático para o sacerdócio de Nemi. Era desestimular atentados contra a liderança. Não se pode imaginar uma medida mais ironicamente efetiva para desencorajar tais ambições que a determinação de um ponto em que os aspirantes devem enfrentar contendores e onde o vencedor deve continuar, para sempre, sujeito ao mesmo desafio. Que ele tenha o que pediu e fique satisfeito – o recurso à força. Obviamente, apenas homens já banidos procurariam o santuário terrível. São esses os termos sob os quais o homem deve existir quando não há lei. Estando já muito avançados, tendo superado os estágios do costume e da liderança, e sendo conscientes da ineficácia da democracia, os romanos foram obrigados a resolver o problema do governo em termos racionais, trabalhando com o que tinham. Tinham a família como a unidade social, compensada pela lei contratual sobre a propriedade, o que fazia do indivíduo a unidade política. Assim, a família não podia se dividir numa forma realmente feudal. Tinham clãs (gentes), de antiga linhagem local, que podiam ser reconhecidos como uma aristocracia, mas não em ordem hierárquica feudal. Tinham uma população grande e variada, os plebeus, palavra que significa apenas multidão, as massas; mas não necessariamente os pobres. O elemento mais importante eram as tribos, ou seja, a divisão da cidade em áreas específicas, que supostamente restaram da união prévia de três comunidades. Essas divisões eram estritamente territoriais e políticas, com fronteiras fixas; as pessoas eram incluídas nelas por local de residência, não por descendência. Essas tribos tinham igual representação por direito a partir da propriedade de terras, moradia; e tinham a obrigação de suprir contribuições iguais para a defesa militar. Representação vinculada à área. Mudanças subsequentes – áreas adicionais, divisões novas ou subdivisões por razões políticas – mantiveram essa forma; havia fronteiras regionais e representação.
Roma nunca foi um “todo” indiferenciado, uma simples agregação de partículas, como postula a teoria da democracia. Desde o início, a cidade de Roma foi uma federação, com a forma federal, que engloba bases permanentes e estrutura, os elementos da arquitetura. Tanto os elementos como a forma precisam de um sistema eletivo; e os romanos primeiro tentaram um mandato vitalício para um executivo eleito. Foi completamente insatisfatório, porque não é possível haver controle confiável ou limitação dos poderes executivos nesse caso.4 Tendo-se livrado de seus presidentes vitalícios (reis), os romanos tomaram rigorosas precauções contra seu retorno por usurpação. Eles não teriam só um executivo chefe; e, mesmo em posições mais baixas, inclinavam-se por ter dualidade de cargos, o que funcionava muito bem no conjunto. Os cargos políticos também eram restritos a mandatos fixos e curtos, com rotatividade de exercício e intervalos em que um candidato não poderia ser reeleito. Essa última disposição é correta, já que a única razão para determinar um tempo de mandato é poder tirar o ocupante. O principal objeto de votações, em qualquer caso, era o voto contra pessoas ou medidas. Os romanos também suspeitavam continuamente de seus generais, proibindo até um comandante vitorioso de reentrar na cidade sem permissão formal. Estavam determinados a impedir a tomada militar da autoridade civil. E foram assombrosamente bem-sucedidos, considerando sua posição, que necessitava de uma boa porção de defesa e constante prontidão militar. Nenhuma outra nação antiga manteve esse controle civil sobre o exército por centenas de anos.
 
Os cargos políticos eram ocupados principalmente pela aristocracia e eram em parte eletivos, em parte sujeitos a nomeação ou preenchidos por cooptação; os diferentes métodos, com mandato vitalício apenas para senadores, impediam a rigidez excessiva ao mesmo tempo em que preservavam a continuidade. Também era possível que homens de talento excepcional subissem a partir dos escalões inferiores. Nada era absolutamente petrificado em status. A igualdade dos senadores (diferente do que ocorre em uma aristocracia hierárquica) e a eleição de outras autoridades não apenas permitia, mas exigia o debate público no corpo de governo e a livre expressão de opiniões pelos cidadãos. Como tanto os eleitores como os ocupantes de cargos públicos possuíam propriedades, tinham um interesse sólido em manter a nação funcionando, com a concomitante obrigação de defesa militar.
 
Mas o golpe inigualado de gênio político foi que o estado romano previa não apenas o adiamento, mas o impasse concreto. O poder dos plebeus, por meio de seus tribunos, era de obstrução manifesta. Os tribunos da plebe não podiam propor nenhuma medida, mas podiam parar os trabalhos; e suas pessoas eram invioláveis. Nada é mais essencial ao bem-estar de uma nação que a restrição ao governo, por meios legítimos. Um mecanismo sem freios, um motor sem dispositivo de corte, foi construído para a autodestruição. O sistema romano era durável porque era organizado de tal maneira que as tensões se transformavam em força e o controle era assegurado pela separação entre a agência executiva e o dispositivo de corte. Essa realização se tornou possível pela definição da fonte de autoridade. “Os romanos possuíam, desde os tempos mais antigos o conceito de jus, que é mais amplo que o de direito positivo declarado por uma autoridade, e denota uma ordem que obriga moralmente os membros da comunidade, tanto humanos quanto divinos.”5
 
Essa ideia de direito como um conceito abstrato não é dada pelo costume, pela liderança, por um conselho ou um rei; tampouco é compatível com a democracia. Em todos esses casos, a autoridade é arbitrária, tendo sido dada ou num costume particular, ou depositada em pessoas por precedência (ancestralidade ou antiguidade) ou determinada pelo número. Os romanos afirmaram que há uma ordem moral no universo.


2 A familiaridade com a função do dinheiro permitiu a Roma governar um império no devido tempo. Diz-se que os espartanos, não sendo acostumados ao dinheiro, eram rapidamente pervertidos quando abandonavam sua modesta economia de subsistência. Não conseguiam manter o mínimo de honestidade em relações contratuais, tendo sido criados no comunismo. No nível mais baixo, não eram capazes nem mesmo de entender os limites da corrupção. (N. da A.)
3 “Além das árvores de Arícia / Aquelas árvores em cuja sombra escura / O sacerdote espectral impera / O sacerdote que assassinou o assassino / E será ele mesmo assassinado.” Do poema The Battle of the Lake Regillus (A Batalha do Lago Regilo), escrito por Lord Thomas Babington Macaulay em 1842. (N. do T.)
4 Uma monarquia constitucional hereditária só é possível como um desenvolvimento a partir do verdadeiro feudalismo. A condição necessária é a sobrevivência de uma aristocracia fundiária com herança inalienável. Quando isso desaparece, a monarquia afunda em seguida. (N. da A.)
5 CAMBRIDGE ANCIENT HISTORY: The Primitive Institutions of Rome. H. Stuart Jackson. Macmillan. (N. da A.)

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Até The Economist sabe o quão atrasadas e malignas são nossas tido como bondosas leis trabalhistas

Afinal, ferrar o empregador [hipersuficiente] em detrimento do empregado [hiposuficiente]é o esporte preferido da intellijumentsia nacional. Afinal, estão ~corrigindo~ injustiças sociais.

"IN 1994 Ricardo Lemos (not his real name) and two friends bought a chain of pharmacies in Pernambuco, in Brazil's north-east. Immediately afterwards they were taken to court by four former employees of the pharmacies who claimed they were owed 500,000 reais (then $570,000) for overtime and holidays. Since the new owners lacked the payroll records, the labour court ruled against them—even though they had only just bought the business and the claimants had been in charge of payroll and work scheduling. The court froze their bank accounts, so they had to close the stores, with 35 redundancies. Seventeen years later three of the cases have been settled, for a total of 191,000 reais. The last drags on as the claimant's widow and son squabble over how much to accept.

Mr Lemos and his partners fell foul of Brazil's labour laws, a collection of workers' rights set out in 900 articles, some written into the country's constitution. They were originally derived from the corporatist labour code of Mussolini's Italy. They are costly: redundancies “without just cause” attract a fine of 4% of the total amount the worker has ever earned, for example. (Neither a lazy employee nor a bankrupt employer constitutes just cause.) Some are oddly specific: for example, annual leave can only be taken in one or two chunks, neither of less than ten days. In 2009, 2.1m Brazilians opened cases against their employers in the labour courts. These courts rarely side with employers. The annual cost of running this branch of the judiciary is over 10 billion reais ($6 billion).

That many of the new jobs are formal (ie, legally registered) is despite, rather than because of, the labour laws. The trend to formalisation is largely a result of the greater availability of bank credit and equity capital on the one hand, and recent changes that make it easier to register micro-businesses on the other. And it coexists with two longstanding Brazilian weaknesses: high job turnover and low productivity growth.Businessmen have long complained that these onerous labour laws, together with high payroll taxes, put them off hiring and push them to pay under the table when they do. When Luiz Inácio Lula da Silva, a former union leader, became Brazil's president in 2003, they hoped he would be better placed than his predecessors to persuade workers that looser rules would be better for them. But scandals in his first term derailed these and other hoped-for reforms. More recently, as Brazil's economy has boomed, with record numbers of jobs created, the need for change has seemed less pressing. The laws are “very up-to-date”, the labour minister, Carlos Lupi, said in December. He wants firing workers to become still pricier.


Gustavo Gonzaga, an economist at Rio de Janeiro's Catholic University, notes that a remarkable one-third of Brazilian workers are made redundant each year, a fact he attributes in part to the labour laws themselves. These are extraordinarily rigid: they prevent bosses and workers from negotiating changes in terms and conditions, even if they are mutually agreeable. They also give workers powerful incentives to be sacked rather than resign. Generous and poorly designed severance payments cause conflict, Mr Gonzaga says, and encourage workers to move frequently. That churn affects productivity, as employers prefer not to spend on training only to see their investment walk away.

Recently, the cause of reform has gained a surprising recruit: the very trade union that Lula himself once led. The ABC metalworkers' union, which represents 100,000 workers in the industrial suburbs of São Paulo, is trying to make union-negotiated agreements binding in the labour courts. At present unions in Brazil cannot strike the sort of deals that are common elsewhere, such as accepting pay cuts during downturns in return for no job losses, since individual workers may later ask the labour courts to unpick them. Hélio Zylberstajn, the president of the Brazilian Institute of Employment and Labour Relations, a study group, thinks the initiative is promising. Unions with the power to negotiate might spend more time representing their members and less cosying up to politicians, he says. And employees' grievances might get resolved quickly in the workplace, rather than slowly in court.

The metalworkers' proposals could improve matters, at least for big companies. For smaller firms, and foreign investors, the best advice will still be “employer, beware”. Ana Rita Gomes, of Mattos Filho Advogados, a São Paulo law firm, talks to potential clients about what she calls “pots of gold”: practices that seem innocuous to the uninitiated, but lead straight to the labour courts. One example is stating salaries in a foreign currency. Exchange-rate fluctuations mean that this falls foul of a ban on ever paying an employee less one month than the previous one. Once her clients are suitably terrified, she explains why they should still proceed—with caution. “These difficulties put other investors off,” she says. “That means less competition for them, and higher profits.”
In Pernambuco Mr Lemos is turning his mistakes to good use by advising other businessmen. He tells them to walk away from a deal unless the seller can produce payroll records, settles all outstanding labour-court cases and promises compensation if further cases are brought regarding matters that predate the sale. The new owner will still be liable if the old one cannot pay, he says, but at least there is less scope for bad faith. He recently learned that before his own ill-starred purchase the seller told his staff that the new boss was rich, and that they should save up their grievances until the deal went through."

domingo, 7 de abril de 2013

Falhas de mercado existem, ok. E daí?

Existem falhas de mercado, isso é inegável pois o mesmo é uma instituição humana. Mas daí a inferir que o governo estaria apto a corrigir essas falhas são outros quinhentos [citação do Coordination Problem]

"Understanding "market failure" and the omnipresence of negative externalities can lead us to make the comparison that does matter. Implicit in negative-externality arguments for intervention is the claim that the political process will actually do what economists say it should do. That is, politicians will impose the blackboard solution. However, the public choice5 revolution that began in the 1960s has challenged that assumption by showing how governments also fail. Politicians' self-interest, combined with the limits to their knowledge, mean that they likely will not and cannot produce the ideal outcome. We are left to ponder which of two imperfect systems will serve us better: the "failed" market or the "failed" political process. We have many reasons to think that markets will outperform government in this regard, even in less-than-perfect conditions. One approach sees every "market failure" as an opportunity for entrepreneurs to solve a problem and discover, through profit and loss, how well they have done. Political processes do not have the requisite incentives and knowledge-conveying processes to do as well."

Sem mais...

BRILHANTEMENTE, Diogo Costa:

"Conquistados Sociais

 
emily
“Antigamente havia muito mais trabalho”, disse Emily Mbongwa, a mulher de 52 anos fotografada em 2010 para o NY Times. A Sra. Emily mora em Newcastle, África do Sul. Para tomar conta de cinco crianças, das 6h às 18h, de segunda a sexta, ela ganha 70 dólares por mês
 
A Sra. Emily ganhava mais com seu emprego antigo, na manufatura têxtil. Mas esse emprego não existe mais. Em 2010, várias fábricas foram fechadas na África do Sul porque pagavam salários em torno de 154 dólares. O salário mínimo era de 244 dólares. Aquelas mulheres estavam fora da lei.
A imposição do salário mínimo não foi bem recebida. Quando a polícia chegou para fechar uma fábrica em Newcastle, relata o NY Times,
as mulheres trabalhando na fábrica – as supostas beneficiárias da repressão – subiram em cima das mesas de corte e das tábuas de engomar para clamar contra. “Por quê? Por quê?”, gritava Nokuthula Masango, de 25 anos, depois que as autoridades levaram embora carrinhos de tecido colorido.
O problema do desemprego na África do Sul não começou em 2010. Durante o apartheid, negros eram impedidos de casar com brancos, frequentar as mesmas escolas que os brancos e, é claro, impedidos de ter os mesmos empregos que os brancos. Essa última imposição foi conquistada com medidas de salário mínimo. “O salário mínimo dmiminui o custo da discriminação”, explica o economista Walter Williams:
 
Durante a era de aparhteid da África do Sul, seus sindicatos racistas estavam entre os principais apoiadores do salário mínimo para os negros. O Conselho de Salários da África do sul dizia, “o método seria estabelecer uma taxa mínima para uma ocupação ou ofício tão alta que nenhum Nativo seria provavelmente empregado.”
 
Durante o apartheid, a Sra. Emily não aprendeu a ler, escrever nem recebeu treinamento profissional qualificado. Dizia que pelo menos na fábrica ela era “tratada com respeito”. Era melhor que ter que suportar os xingamentos racistas dos filhos da família onde, antes da fábrica, ela trabalhava como doméstica das 6h às 21h.


“Transferência de aprendizagem” é o nome dado a um dos maiores desafios da pedagogia moderna. Ao aprendermos determinado conceito ou raciocínio no contexto X, não fazemos automaticamente a aplicação do mesmo conceito ou raciocínio quando nos apresentam o contexto Y. Há um século, a psicologia vem mostrando exemplos dessa dificuldade humana. Aprender Latim não melhora o desempenho acadêmico em outras áreas, resolver um quebra-cabeças não melhora muito a capacidade de resolver outros quebra-cabeças visualmente diferentes mas logicamente semelhantes. É como se nossa mente aprendesse a calcular a área de uma mesa retangular, mas continuasse sem saber calcular a área de um campo de futebol. Ou, como dizia Millôr Fernandes, o xadrez funciona como “um jogo chinês que aumenta a capacidade de jogar xadrez.”
 
A economia é cheia de problemas de transferência de aprendizagem, inclusive nas suas proposições mais fundamentais. Por exemplo, quando o preço da energia sobe, as pessoas usam mais ou menos o ar condicionado? Ou quando se aumenta o pedágio, as pessoas vão dirigir mais ou menos na estrada?
E quando o governo aumenta o preço da contratação de trabalhadores? Vão ser contratados mais ou menos trabalhadores? Não precisa cursar economia para ver que a questão é apenas mais uma aplicação da lei de oferta e demanda. Então por que meus amigos socialistas chamam o aumento do preço da energia ou do pedágio de “exploração”, mas chamam a PEC das Domésticas de “conquista social”.
 
A pior consequência da PEC das domésticas não é mandar os homens para a cozinha, como sugeriu a capa “classe média revoltada” da Veja. É mandar as domésticas embora. O que aconteceu na África do Sul está acontecendo no Brasil:
 
Meu patrão teve que me mandar embora por causa das horas extras, já que eu trabalhava doze horas por dia. Ele disse que não teria condições de pagar — disse Maria, que cuidava da esposa do patrão, portadora de Alzheimer.
 
A cuidadora de idosos Maria Aparecida foi demitida na semana passada. Patrão alegou que não poderia pagar horas extras
Maria Aparecida dos Santos é uma mulher de 65 anos que viu sua renda desaparecer três dias depois da aprovação da Emenda. O patrão preferiu contratar uma empresa: “O serviço terceirizado sai pela metade do preço, não tem aviso prévio nem FGTS.” De fato, há muitas mulheres que se beneficiarão da lei, mas apenas às custas das mais vulneráveis. O Sindicato das Empregadas domésticas do Rio diz que está atendendo agora 50 pessoas por dia, quando antes atendia 30. Ao aumentar o custo de contratação de empregadas domésticas, a Proposta de Emenda Constitucional 66/2012 está, à margem, efetivando a exclusão trabalhista de empregadas domésticas.
 
Medidas que prometem poder aos pobres podem acabar por deixá-los ainda mais frágeis. Pensem na relação da Dona Maria Aparecida com seu patrão. Me digam, quando ele esteve com mais poder sobre ela, antes ou depois da PEC? Exclusão trabalhista aumenta as chances dos trabalhadores terem que aceitar piores condições e rejeitar a formalidade para poderem pagar as contas.
 
A mesma exclusão trabalhista decorre do resto das nossas conquistas sociais. O Brasil lidera o ranking de 25 países, da consultoria UHY, que mede o peso dos impostos sobre a contratação de funcionários. Para um salário anual de 30 mil dólares, o empregado brasileiro custa 17.267 dólares a mais para seu empregador. Ou seja, 57,56% do seu salário são apenas impostos. Nossos amigos de sigla impõem custos menores. Na China, os impostos tomam 30,88% do salário; na Rússia, 21,06% e na Índia, 3,67%. Alguém ainda tem dúvidas de por que empresas preferem abrir e contratar trabalhadores no leste asiático?
 
Mas, mais uma vez, a transferência de aprendizagem parece desafiar muitos brasileiros. Achamos que aumentar o preço do trabalho do pobre por meio de encargos e impostos equivale a aumentar o valor do trabalho do pobre por meio de capital e produtividade.
 
O Brasil não precisou passar por uma ditadura racial para fazer com os pobres o que o apartheid fazia com os negros.

Produtividade às canetadas?

Quando da decisão que resolveu [quase que] equiparar o trabalho doméstico ao prestado com finaldades lucrativas [custo esse que já é alto para atividades menos produtivas, que dirá para atividades que sequer geram renda ao empregador] muita gente disse que era um avanço no sentido CIVILIZATÓRIO da coisa [inclusive na reportagem citada abaixo]. Mas como assim? Se abundam pessoas com baixa capacidade produtiva - principalmente nas regiões mais pobres - e que, para essas, a remuneração máxima que alguém se disponha a pagar pelo serviço que possam prestar é bem menor dos que os quase mil reais com encargos trabalhistas INEGOCIÁVEIS é por, simplesmente, os patrões serem uns filhos-da-puta mãos-de-vaca e que, nos países mais desenvolvidos a conversa é outra, os salários são mais altos não por causa de uma maior produtividade geral dos habitantes locais mas por causa de leis trabalhistas mais rígidas e ponto final? Quer dizer, países mais desenvolvidos podem até se dar ao luxo de arcar com legislações trabalhistas mais escrotas e claramente anti-isonômicas que as nossas [DU-VI-Dê-Ó-DÓ]mas não seria o fato da população ser mais produtiva que a nossa a ponto deserviços domésticos custarem os olhos da cara? Será mesmo que o desenvolvimento do chamado Primeiríssimo Mundo se deu por canetadas certeiras de seus competentes legisladores que souberam refrear a ganância dos mais ricos e distribuir mais equitativamente o bolo social? Cês juram mesmo?


Aqui vai uma reportagem publicada no Blog do Noblat e que conta a realidade do serviço doméstico aqui no Brasil,no uruguai [de passagem, mas conta] e nos EUA. Devo salientar que, apesar do texto não se referir ao fenômeno sob este aspecto [coloquei-o como ilustração], suspeito que a falta/escassez de serviço doméstico no América do Norte não é fruto da sensibilidade patronal que abriu mão destes - ou por questões trabalhistas - mas, antes, em razão da produtividade marginal ser bem maior por lá, além das "facilidades" com que o serviço doméstico pode ser executado por aquelas plagas. É óbvio que a produtividade é diretamente relacionada aos exemplos comumente relatados de pais de famíia fazendo suas próprias reformas, pintando suas próprias casas etc., coisas que aqui, definitivamente, somente são feitas por pessoas em dificuldades monetárias e/ou mais mão-de-vaca mesmo, afinal, nem de longe o aparato técnico ideal para isso é encontrado com a facilidade que é nos EUA. O acúmulo de capital - com seu relacionado aumento de produtividade - que proporciona tail "faça-vocÊ-mesmo" ser a melhor opção no custo-benefício da coisa. Não uma lei boboca escrita por legisladores que, nem de longe, têm as mesmas preocupações que um pai [ou mãe] de família comum.

"WASHINGTON e NOVA YORK. Filhos da classe média de Brasília, Bruno Oliveira, de 31 anos, e Melinda Rojas, de 30, foram criados cercados de empregados domésticos. Recém-casados, sem filhos, levaram o hábito para a nova vida: contrataram uma ajudante para todos os dias. Admitem que não viam a cor da cozinha, passavam longe da vassoura, não guardavam roupas e sapatos após o trabalho e organização não era palavra encontrada em seus dicionários. Mudaram para o Uruguai em 2010 já com a bebê Olívia e encontraram um cenário semelhante ao do Brasil — mão de obra farta e barata. Não pensaram duas vezes: tinham empregada diariamente. Bruno confessa:

— Quando tinha que fazer alguma coisa em casa, ficava irritado. Uma vez me dei conta de que não pisava na área de serviço havia três meses!

No início de 2012, Bruno foi transferido para os EUA. Mas a mudança foi muito maior do que a de emprego. Num país em que uma faxineira custa US$ 130 (cerca de R$ 260) por três ou quatro horas de serviço, a babá sai a US$ 15 a hora e as creches públicas são raras – custando, as privadas, ao menos US$ 1.000 em horário parcial —, a família passou por uma revolução doméstica. Para facilitar a adaptação, Melina passou a trabalhar de casa e a divisão de tarefas virou lei. Ela cuida da filha, cozinha, lava e seca as roupas e mantém a ordem na área social. Bruno, que trabalha em horário integral, fica com a limpeza pesada, geralmente aos sábados: lava três banheiros, cozinha e áreas de serviço e externa. À noite, ajuda com a louça – e tem que cuidar da própria roupa, que separa para lavar e guarda quando seca.
 
— Foi um choque, um estilo de vida que só via em filmes. Mas a cultura do faça-você-mesmo tem seus ajudantes: eletrodoméstico para tudo; os produtos de limpeza são potentes e fáceis de manejar; até os tecidos amassam menos — afirma Melina.

Bruno acrescenta que os serviços fora de casa cabem no orçamento. Suas camisas sociais vão para a lavanderia. Se custavam R$ 10 cada no Brasil, saem a menos de US$ 2 (menos de R$ 4) em Fallschurch, subúrbio da Virgínia.
 
— Mas é a organização, aprender a usar agenda diariamente, que demonstra que você pode fazer. Pode não ficar perfeito, mas é satisfatório — garante Bruno.
 
Olívia, hoje com 3 anos, não fica de fora: brincando, ajuda na lavanderia, com a lava-louça e na hora de fazer a cama. E não pode trocar de brincadeira sem guardar os objetos da diversão anterior.

— A brincadeira de hoje é o hábito de amanhã. Queremos que ela leve isso para o Brasil — explica Melina, que vai colocar Olívia na creche a partir de agosto para voltar a trabalhar meio expediente.
 
Quando a ajuda é indispensável, o setor público nos EUA se apresenta, por exemplo, com o auxílio a crianças com deficiência. Christiane, de 36 anos, e Diego Bonomo, de 31, são pais de Vito, que nasceu com síndrome de Down e tem 2,9 anos, e Lara, de 1,8 ano. Não era opção largar o emprego ou trabalhar meio expediente. Os brasileiros recorreram ao estado da Virgínia, que, após pesquisa domiciliar, passou a pagar 11 horas de atendimento em casa a Vito. A criança, embora frequente creche de 9h às 12h, tem atividades terapêuticas obrigatórias ao seu desenvolvimento nos outros horários e precisa de quem o acompanhe.
 
A família contratou uma segunda pessoa, no esquema de au-pair (universitária brasileira que mora em casa e tem estudo e seguro-saúde pagos pelo casal).
 
— Mas só temos ajuda quando estamos fora de casa. Das 6h às 7h30, nós é que arrumamos, damos café. Um de nós sai mais cedo e outro mais tarde, negociado com os patrões, em dias alternados, para podermos deixar o Vito na escola. Na saída, nós que pegamos. Quando entramos em casa, 17h30, 18h, não tem mais ajuda. Damos comida e banho, brincamos e colocamos para dormir. A empregada dorme, mas o horário dela acaba muito antes — explica Chris.
 
Diego considera o ambiente nos EUA propício à organização: — Facilita a forte cultura familiar, ao menos nas grandes empresas dos EUA, porque há espaço para você negociar horário com os chefes, porque ele mesmo tem necessidades a atender. O transporte público também ajuda, eu não uso carro, saio correndo do trabalho e pego metrô para chegar na escola. Às sextas-feiras, quando o casal quer sair, eles pagam adicional à funcionária que dorme, como baby sitter.

— Não está no contrato dela, então é hora extra — diz Chris.

Criados com empregados, Chris e Diego consideram a nova legislação brasileira um grande avanço e esperam que ela gere uma sacudida no machismo brasileiro. Tentarão, na volta ao Brasil, em julho, manter a estrutura mais enxuta possível e reproduzir o esquema pessoal que têm em casa — mesmo desejo de Bruno e Melina.
 
— Acho que no Brasil se terceiriza demais a criação dos filhos. A mulher quer sair do trabalho e ir à academia. Eu também vou à academia, mas quando posso: na minha hora de almoço. Encerrado o trabalho, a vida é da família. Essa é uma escolha que se faz quando se decide ser mãe e pai — afirma Chris.

Já a coordenadora de um grande escritório paulista de arquitetura em Nova York, onde mora há 20 anos — 16 deles com o marido, o executivo do mercado financeiro André Soares —, a carioca Lenka Soares, de 39 anos, tem em casa hoje um regime parecido com o proposto pela nova legislação brasileira. Desde que sua filha, Catarina, hoje com 4 anos, nasceu, ela contratou uma babá mineira que trabalha oito horas por dia de segunda a sexta-feira (a diária custa US$ 120) e ganha US$ 15 a mais por cada hora extra.
 
— Aqui a vida é mais complicada, não tenho a liberdade de ir e vir, mas estou acostumada. Quando saio à noite, o que é raro, chamo uma baby sitter (US$ 15 por hora mais US$ 20 de táxi após as 21h). O lado bom é que a família fica mais unida, as crianças têm os pais mais presentes. Meu marido chega cedo do trabalho, enquanto no Brasil as pessoas que fazem o mesmo que ele só estão em casa depois das 21h, 22h. Jantamos os três juntos às 19h15 todas as noites — conta ela. — O André sempre ajudou muito. O pai aqui precisa ser muito mais participativo, aprende a ficar sozinho com os filhos. Nos fins de semana os dois saem bastante juntos. No Brasil não vejo os pais passarem nem meia hora sem uma babá do lado.

Lenka lembra que, para facilitar, a maioria das suas amigas de Nova York tem os filhos estudando em horário integral, das 8h30 às 15h30, a partir dos 3 anos. —
 
 Pior do que a falta de serviço é a falta de ajuda familiar. Não existe ligar para um amigo dizendo "vou deixar minha filha aí porque tenho uma reunião". Ninguém tem esquema, então é cada um por si. Mas assim criamos crianças mais independentes. Desde os 2 anos minha filha come sozinha, escova os dentes e mantém o quarto impecável — diz.

Quando decidiu se mudar de São Paulo para Nova York, em 2008, após dez anos de trabalho na American Express, o administrador Cid Uehara, que hoje trabalha como motorista particular, sabia que dali para frente tudo seria diferente na rotina doméstica da família.
 
— Minha filha quando chegou aqui, com 10 anos, nunca tinha feito uma cama na vida. Hoje ela lava louça, banheiro, arruma a casa, toma conta do irmão. Ele tem 9 anos e é o responsável por botar o lixo pra fora. Três vezes por semana coleta os lixos dos quartos e banheiros, junta com o da cozinha, separa para reciclar em três grupos diferentes (orgânico, papel, vidro com plástico). Também arruma a própria cama — conta, lembrando que no estado de Nova York é proibido deixar menores de 15 anos em casa desacompanhados, e, agora que chegou a essa idade, a menina vai poder ajudar ainda mais. — Aqui nós nunca tivemos empregada na vida, nem por um dia, porque é muito caro.

Em Manhattan, uma diarista cobra entre US$ 80 e US$ 120 por um período de três ou quatro horas.
 
— A maior mudança foi a criação de uma responsabilidade que no Brasil não teríamos. Lá certamente haveria uma pessoa para arrumar a casa. Não foi uma opção nossa. Aqui você obrigatoriamente tem que fazer o que alguém faria por você. Mas foi bom principalmente para os meus filhos. Nos EUA tudo é mais fácil. Basta dizer que comer fora é mais barato do que cozinhar em casa — diz Uehara.

sexta-feira, 29 de março de 2013

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=bfO0m5PbxRQ


http://www.youtube.com/watch?v=xM1SZf5WX9Y

http://www.youtube.com/watch?v=6RDB5HvAfhg

Grécia, Euro e "austeridade para quê, né?"

A  tragédia do euro e o caso da Grécia******


Os eventos fiscais na Grécia são exemplares da tragédia do euro e seus incentivos perversos. Quando a Grécia entrou na União Monetária Europeia, três fatores se combinaram para gerar déficits excessivos no orçamento do país. Primeiro, a Grécia foi admitida a uma taxa de câmbio muito alta. Com essa taxa e com os salários vigentes, muitos trabalhadores se tornaram pouco competitivos em relação aos trabalhadores dos países do norte, muito mais capitalizados. Para aliviar esse problema, as alternativas eram (1) reduzir os salários para aumentar a produtividade, (2) aumentar os gastos governamentais para subsidiar os desempregados (com seguro-desemprego ou esquemas de aposentadoria prematura), ou (3) empregar esses trabalhadores pouco competitivos diretamente no setor público.

Por causa dos poderosos sindicatos, a primeira alternativa foi deixada de lado. Os políticos optaram pela segunda e terceira alternativas, as quais geraram altos déficits orçamentários.

Segundo, por ter entrado na União Monetária Europeia, o governo grego podia agora contar com uma garantia implícita de socorro do Banco Central Europeu e dos outros países-membros da UME. As taxas de juros sobre os títulos da dívida do governo grego caíram para níveis próximos dos da Alemanha. Consequentemente, os custos marginais de se incorrer em déficits foram reduzidos para o governo grego. As taxas de juros estavam agora artificialmente baixas. A Grécia era um país que já tinha dado vários calotes ao longo do século XX e que estava acostumado a altas taxas de inflação e a altos déficits, bem como a um crônico déficit na balança comercial. Apesar disto tudo, o país passou a poder se endividar pagando praticamente as mesmas taxas de juros da Alemanha, um país com um histórico fiscal conservador e com um impressionante saldo na balança comercial.

Terceiro, a tragédia dos comuns entra em cena. Os efeitos deste temerário comportamento fiscal do governo grego podia ser parcialmente externalizado para os outros membros da UME, uma vez que o Banco Central Europeu passou a aceitar títulos da dívida do governo grego como colateral para suas operações junto ao sistema bancário. Os bancos europeus passaram a comprar títulos do governo grego (os quais pagavam um bônus em relação aos títulos do governo alemão) e a utilizar esses títulos para receber empréstimos do BCE a juros baixos (atualmente a juros de 1%, um negócio altamente lucrativo).

Os bancos compraram títulos gregos porque sabiam que o BCE iria aceitar esses títulos como colateral para conceder novos empréstimos. Havia demanda por esses títulos gregos porque os juros que os bancos pagavam para o BCE eram menores do que os juros que os bancos recebiam do governo grego. Caso o BCE não aceitasse os títulos gregos como colateral para seus empréstimos, a Grécia teria de pagar juros muito maiores sobre sua dívida. Com efeito, o governo grego tem sido de certa forma socorrido ou sustentado pelo resto da UME por um longo tempo, em um perfeito exemplo da tragédia dos comuns.

Os custos dos déficits gregos foram parcialmente jogados para outros países da UME. O BCE criou novos euros ao aceitar os títulos do governo grego como colateral. As dívidas gregas foram assim monetizadas. Com o dinheiro que recebeu com a venda de seus títulos, o governo grego elevou os gastos para ganhar apoio e popularidade junto à população grega. Quando os preços começaram a subir na Grécia, o dinheiro fluiu para os outros países, elevando os preços no resto da UME. Nos outros países-membros, as pessoas começaram a sentir os preços de suas compras subindo mais rapidamente do que suas rendas. Esse mecanismo significou uma redistribuição de renda a favor da Grécia. O governo grego estava sendo socorrido e auxiliado pelo resto da UME em uma constante transferência de poder de compra.


****Final do nono cápítulo do Livro linkado acima [ "A tragédia do EURO", de Bagus]